quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Vinicius Torres Freire: Bobagens sobre pesquisas eleitorais

- Folha de S. Paulo

Nos últimos dias, difundiram-se opiniões com ares céticos sobre os números do Datafolha. Dizem os doutos ponderados que não se pode levar muito em conta a pesquisa. A eleição estaria muito incerta porque 48% do eleitorado diz que não sabe em quem vai votar quando não se lhe apresenta uma lista de candidatos. Trata-se do resultado quando se pede a opinião "espontânea" do eleitor.

Hum. Não quer dizer nada. Tem sido mais ou menos assim desde 1994. A pesquisa "espontânea" não diz grande coisa. O eleitor costuma flutuar na estratosfera antes de seis meses da votação.

Quando há uma lista fechada de candidatos, em geral as chances e as forças dos candidatos ficam mais evidentes apenas e partir de junho do ano da eleição. Isto é, estamos a mais de seis meses de ter uma visão mais clara da pendenga.

O problema da incerteza não está bem aí, no eleitorado.

O tumulto ansioso vem da casta política, em enorme desordem, gente na média de baixíssimo nível, em boa parte fugitiva da polícia e que vai dando chutes a esmo a fim de ver se acerta o gol da manutenção do poder. O eleitor, como sempre, cuida da vida dura e espera baixar a poeira suja antes de dizer suas intenções.

Em 2002, já em junho, os mesmos 48% ainda diziam não saber em quem votar para presidente. Naquela eleição, os principais candidatos eram os conhecidos Lula da Silva, José Serra, Anthony Garotinho e Ciro Gomes. Em julho de 2014, por exemplo, na reeleição de Dilma Rousseff, 55% dos eleitores ainda não sabiam dizer em quem votariam, também na pesquisa "espontânea".

Desde 1994, de 45% a 60% dos eleitores não têm voto decidido cerca de um ano da eleição. A situação muda depois de definidas as candidaturas oficiais e no início do horário eleitoral de TV, lá por agosto, quando a indefinição cai para um terço do eleitorado.

Quando há uma lista de candidatos, a proporção de eleitores que rejeitam todos (votam branco, nulo ou nenhum) parece algo maior nesta altura de 2017 do que em outras eleições, com exceção da disputa de 2014. Mas ainda não dá para cravar que agora a rejeição de candidatos seja significativamente maior.

É relevante a diferença de votação de certos candidatos na pesquisa "espontânea" e na "estimulada" (quando se apresenta uma lista). Alguns saem do zero na "espontânea" para uma posição competitiva quando são apresentados na lista da "estimulada".

Não é possível tirar alguma lição sistemática daí, porém. O que parece razoável dizer é que corre risco um candidato que ainda não fez campanha e é apresentado na lista de votação. Pode parecer um candidato fraco, mesmo que tenha potencial, sendo queimado à toa. Óbvio.

Lula da Silva e Jair Bolsonaro aparecem adiante porque fazem campanha há meses. Pode ser que os demais presidenciáveis continuem com votações inexpressivas. Ou não. É puro chute.

No resumo da ópera, podem estar sendo queimadas candidaturas com alguma chance. Outras podem ser cogitadas a fim de fazer jogos políticos comuns ou chantagem.

Por fim, além de contexto social e econômico, eleições dependem da conversa que se vai ter com o eleitor, do programa que vai ser plasmado na cara do candidato. Por ora, estamos tratando de pastéis de vento.

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