O governo pretende convencer os partidos da base aliada a fechar questão em favor da reforma da Previdência. Isso obrigaria os parlamentares dessas legendas a aprovar a reforma, ficando os dissidentes sujeitos à punição. A nova estratégia do presidente Michel Temer, que até agora estava sendo obrigado a cabalar votos deputado por deputado em razão da hesitação dos partidos da base, aposta no comprometimento formal das legendas governistas com as reformas.
Pode-se perguntar o que o governo pode oferecer para convencer os partidos que até aqui vinham evitando esse apoio institucional explícito a uma reforma tão reputadamente impopular. A resposta vai além da simples promessa de mais espaço na máquina do Executivo ou de preciosas verbas às vésperas de um ano eleitoral. Trata-se de fazê-los enxergar que a reforma da Previdência integra um esforço muito mais amplo, com vista à recuperação rápida e sustentável da economia, trabalho cujo sucesso é essencial para alavancar as candidaturas vinculadas de uma forma ou de outra ao governo.
Ou seja, o governo entende que é possível transformar o que seria um fardo eleitoral – a aprovação da reforma da Previdência – em um trunfo.
Tal estratégia contraria a percepção generalizada segundo a qual as medidas de austeridade e a reformulação do sistema previdenciário tirariam votos porque prejudicariam os eleitores em geral. É nisso que apostam, aliás, os dois candidatos que aparecem na frente nas pesquisas de intenção de voto, Lula da Silva e Jair Bolsonaro. O primeiro, inclusive, já avisou que, se eleito, mandará rever todas as medidas saneadoras adotadas pelo presidente Temer, a começar pelo teto de gastos públicos, e conclamou a oposição a “juntar forças para evitar que essa reforma (da Previdência) aconteça, porque o que eles estão fazendo não é uma reforma, é um desmonte, quase que uma implosão de tudo aquilo que foi considerado conquistas sociais para o povo brasileiro”. Bolsonaro, por sua vez, fiel a seu estilo, chamou a reforma da Previdência de “porcaria”.
Esse é o nível dos que hoje estão na vanguarda da defesa da manutenção do sistema previdenciário, que ameaça reduzir drasticamente as verbas destinadas a áreas cruciais para o País, como saúde e educação. Mesmo diante de incontestáveis evidências de que a Previdência, tal como está hoje, é inviável, os adversários do governo seguem apostando na desinformação para angariar apoio popular e sabotar a reforma.
A rejeição dos eleitores à reforma, contudo, começa a ceder. Uma pesquisa do Ibope encomendada pelo governo, à qual o Estado teve acesso, mostra que o porcentual de entrevistados contrários à reforma caiu de 61% para 46%, enquanto os favoráveis saltaram de 14% para 18% e os que ainda não têm opinião subiram de 24% para 33%. Ou seja, o empenho do governo em explicar a importância das mudanças parece que começa a dar frutos.
Ao mesmo tempo, o governo tem se dedicado a mostrar aos partidos da base aliada que, sem a reforma da Previdência, a incipiente recuperação da economia estará comprometida. Uma derrota do governo nesse caso teria enorme impacto negativo nos mercados, e todo o suor gasto até aqui para restaurar as finanças públicas, arruinadas por anos de irresponsabilidade lulopetista, terá sido em vão. Os únicos a lucrar com isso, é claro, seriam Lula da Silva e os demais aventureiros que pretendem se apresentar como salvadores do País. Já uma recuperação vigorosa da economia seria um bálsamo eleitoral para os partidos governistas.
A estratégia de Temer parece funcionar, a começar por seu próprio partido, o PMDB. O líder peemedebista na Câmara, Baleia Rossi (SP), informou que a maioria dos seus correligionários já é favorável a fechar questão em favor da reforma. Em se tratando de PMDB, conhecido por sua fragmentação, será uma façanha e tanto, capaz de convencer os demais partidos da base, e por tabela o hesitante PSDB, de que está em formação uma promissora frente eleitoral, unida em torno da agenda das reformas e da recuperação da economia.
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