A inflação deu uma trégua aos mais pobres, desde o fim do ano passado, e com isso as famílias de baixa renda tiveram dois benefícios. O mais visível é mostrado de forma direta nas pesquisas publicadas mensalmente ou, em alguns casos, até a cada semana: seus gastos de consumo foram menos pressionados que os das famílias mais abonadas. Nos 12 meses terminados em outubro, os bens e serviços consumidos pelo grupo mais pobre, com renda mensal abaixo de R$ 900, encareceram em média 2%. Para as famílias do patamar superior, com renda acima de R$ 9 mil por mês, a alta de preços chegou a 3,5%. O outro benefício, menos ostensivo nas tabelas de inflação, é simples e sempre muito bem-vindo. É o desafogo do orçamento. Quando o custo de vida sobe mais devagar, a renda é corroída mais lentamente ou, em outras palavras, o salário dura mais, assim como qualquer outro tipo de ganho. Se o alívio ocorre nos itens mais importantes, como os gastos com a alimentação, o ganho é maior, porque sobra mais dinheiro para outras despesas e o consumidor fica mais livre para ajeitar suas condições de vida.
A inflação já foi descrita como o mais injusto dos impostos, porque faz o pobre pagar um preço desproporcional pelos desajustes criados pelo governo. Preços desarranjados, é sempre bom lembrar, geralmente resultam de erros cometidos pelas autoridades, como excesso de gastos públicos, intervenções desastradas no sistema de preços ou, simplesmente, corte voluntarista de juros e expansão imprudente do crédito. Houve uma desastrosa concentração de todos esses erros entre 2011 e 2015.
Todas as pesquisas de preços mostraram uma forte desinflação a partir do ano passado. O impacto diferenciado de acordo com o nível de renda foi evidenciado pela distância entre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). O primeiro é baseado nos orçamentos de famílias com renda mensal entre 1 e 40 salários mínimos. O segundo, nas despesas de famílias com renda de 1 a 5 mínimos. Os dois indicadores são produzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A novidade é a segmentação maior desse conjunto, apresentada em relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), também vinculado ao governo federal. Técnicos do instituto recompuseram os dados a partir de uma segmentação em seis grupos de renda. As descobertas são exemplificadas com números mensais de outubro de 2016 e de três meses de 2017 – agosto, setembro e outubro.
Em todos os casos, a variação de preços para o grupo mais pobre foi a mais baixa. De modo geral, mas com alguma oscilação, condições melhores foram verificadas também para os primeiros quatro grupos, da renda muito baixa até a média. Parte considerável dessa evolução é atribuível à retração dos preços dos alimentos, com peso maior para as famílias com ganhos mensais entre muito baixos e médios.
Uma tendência menos favorável foi notada nos últimos dois meses. Para 2018 já se espera uma inflação superior a 4%, mas abaixo da meta oficial de 4,5%. Esperam-se preços mais altos no mercado internacional de grãos e novas pressões sobre o custo da alimentação, mas nenhuma alteração desastrosa no cenário. De toda forma, a inflação deverá continuar mais suave do que foi até 2015 e famílias de todas as faixas de renda ainda poderão desfrutar de algum desafogo. A melhora do emprego, com efeitos sobre a demanda, também poderá contribuir para alguma alta de preços. Mas pressões derivadas da política, em ano de eleições, são apontadas como as principais ameaças.
Com ou sem eleições, o principal fator de estabilidade de preços continuará a depender da capacidade do governo de arrumar suas contas. Esse trabalho será facilitado se os congressistas estiverem dispostos a agir de acordo com os interesses públicos de longo prazo. Inflação baixa, com benefícios para os pobres, é um desses interesses. No Brasil, o mais comum é falar a favor dos pobres e prejudicá-los, no fim da história, com inflação gerada por ações populistas.
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