Relator dos processos da Operação Lava-Jato no STF, o ministro Edson Fachin afirmou que membros de sua família vêm recebendo ameaças. A presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia, autorizou aumento da escolta para Fachin e familiares.
Tiros e ameaças
No mesmo dia, ônibus de Lula é alvejado, e Edson Fachin relata intimidação a familiares
Dois episódios distintos revelaram o clima de tensão crescente no país, às vésperas do início da campanha eleitoral e em meio ao avanço da Operação Lava-Jato.
No Paraná, dois ônibus da caravana do ex-presidente Lula, que mobiliza aliados e opositores do petista na Região Sul, foram alvo de três tiros quando deixavam a cidade de Quedas do Iguaçu em direção a Laranjeiras do Sul. Ninguém saiu ferido.
Os eventos do ex-presidente, que começaram pelo Rio Grande do Sul, estão sendo marcados por atos de hostilidade, com barreiras em estradas e ataques com pedras e ovos. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, classificou o episódio de “inaceitável” e pediu ao governo do Paraná que reforce a segurança nos atos de Lula.
Em Brasília, a Polícia Federal foi acionada para investigar ameaças sofridas por familiares do relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin. A intimidação foi revelada pelo próprio magistrado, em entrevista ao jornalista Roberto D’Avila, da GloboNews.
No relato, Fachin afirma que já pediu “providências” à presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, para apurar a origem das ameaças e revelou temor de ser vítima de um atentado.
Edson Fachin pede ao STF e à Polícia Federal medidas de proteção à família
Em entrevista, ministro sinaliza que algumas providências de apoio não foram atendidas
André de Souza, Bruno Abudd, Jailton de Carvalho e Renata Mariz| O Globo
-RIO E BRASÍLIA- O relator dos processos da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) pediu providências à Polícia Federal e à ministra Cármen Lúcia, presidente da Corte, para investigar ameaças endereçadas a seus familiares. Na entrevista à GloboNews, Fachin não detalhou o teor das intimidações.
— Uma das preocupações que tenho não é só com julgamento, mas também com a segurança de membros da minha família — disse o ministro, antes de completar: — Tenho tratado desse tema e de ameaças que têm sido dirigidas a membros da minha família.
Fachin substituiu o ministro Teori Zavascki, morto em janeiro de 2017 em acidente aéreo, em Paraty, na relatoria dos processos da Lava-Jato no Supremo. Na entrevista, ele afirmou ainda ter solicitado “algumas providências” à presidente do STF e à PF “por intermédio da delegada que trabalha no tribunal”.
— Nem todos os instrumentos foram agilizados, mas eu efetivamente ando preocupado com isso e esperando que não troquemos fechadura de uma porta já arrombada também nesse tema — disse o magistrado, em programa gravado anteontem.
Fachin salientou que a família não pode sofrer por causa de sua carreira na magistratura.
— De fato, essas circunstâncias não são singelas, mas em relação a mim, que aqui estou por ter respondido afirmativamente a esse chamamento que a vida me fez, e sou grato à vida por isso, fico preocupado, sim, com aqueles que, membros da minha família, não fizeram essa opção e poderão eventualmente sofrer algum tipo de consequência. Mas espero que nada disso se passe.
Depois da entrevista, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, anunciou que a PF está à disposição do ministro. Jungmann diz que a PF tem duas equipes prontas, uma para ajudar na segurança do ministro, se for necessário. A outra será para abrir um inquérito sobre o caso. Fachin informou à PF, no entanto, que, por enquanto, não precisa reforçar sua segurança pessoal.
A presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, informou, por meio da assessoria da Corte, que já autorizou medidas para reforçar a proteção ao ministro Edson Fachin, antes mesmo de ele relatar à imprensa as ameaças sofridas. Ela determinou aumento de agentes que fazem a escolta permanente do ministro e de familiares dele em Curitiba.
Por solicitação da ministra, duas delegadas da Polícia Federal, especializadas em segurança para casos envolvendo magistrados ameaçados no país, foram à capital paranaense para verificarem as providências mais eficazes a serem adotadas.
Sobre a afirmação de Fachin, de que “nem todos os instrumentos foram agilizados”, a assessoria de Cármen foi procurada, mas não se manifestou até o fechamento desta edição.
OFÍCIO A TODOS OS MINISTROS
Cármen Lúcia também encaminhou ofício a todos os ministros do STF para saber da necessidade de alteração e aumento do número de agentes de segurança. A Corte não divulga quais ministros têm escolta nem o número de servidores envolvidos na proteção de cada um por questões de segurança.
O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), considerou “grave” o fato de Fachin e sua família estarem sofrendo ameaças. Maia disse que a PF deverá tomar medidas duras para coibir estas práticas.
— Ele (Fachin) já relatou ao Ministério Público e à Polícia Federal que certamente tomarão providências de forma enérgica. É grave em relação a qualquer cidadão que recebe ameaças, principalmente na posição em que ele está.
Dois ônibus da caravana de Lula são atingidos durante viagem pelo Paraná
Veículos ainda tiveram pneus furados; Polícia vai tratar o caso como tentativa de homicídio
Sérgio Roxo enviado especial | O Globo
LARANJEIRAS DO SUL (PR)- Dois ônibus que levam a comitiva de Lula foram alvo de disparos pouco depois de deixar o perímetro urbano de Quedas do Iguaçu, assim que entraram na rodovia a caminho de Laranjeiras do Sul, ambas no Paraná. Segundo o delegado Fabiano Oliveira, de Laranjeiras do Sul, foram constatados três tiros nos veículos, e uma marca de pedrada no vidro de um dos ônibus.
Ainda de acordo com o delegado, um dos tiros foi disparado por arma mais forte, calibre 380, e os outros são de arma de calibre menor, possivelmente 22.
— Foram pelo menos duas pessoas na ação, porque há tiros nos dois lados de um dos ônibus. O caso vai ser tratado como tentativa de homicídio — afirmou Fabiano Oliveira.
Relatos de pessoas que estavam dentro de um dos veículos, que levava jornalistas brasileiros e estrangeiros convidados pela comitiva, o carro recebeu um tiro na lataria e ainda apresentava uma espécie de arranhão no vidro, o que o delegado confirmou como pedrada.
Ainda segundo testemunhas, o outro ônibus, com parlamentares e convidados, apresenta uma marca de tiro na lataria, pouco abaixo das janelas. Lula estava em um terceiro ônibus, que não recebeu nenhum disparo de arma de fogo. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, cobrou providências a respeito do episódio:
— Vou pedir (ao governo do Paraná) que existam cuidados adicionais. Nós não podemos admitir confrontos. É absolutamente antidemocrático.
O ex-presidente Lula também reagiu ao episódio:
— Se pensam que com isso vão acabar com a minha disposição de brigar, estão enganados.
A Polícia Civil do Paraná informou que será aberto um inquérito para apurar os fatos. Em nota, disse ainda que a comitiva não havia pedido escolta, o que foi negado ontem por Márcio Macedo, coordenador da equipe do expresidente Lula:
— Pedimos escolta em reunião duas semanas atrás.
O PT informou que registraria um boletim de ocorrência e que também pediria perícia nos veículos. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, classificou de “emboscada” o ato contra os ônibus da caravana.
— Queriam atingir o presidente Lula, foi uma emboscada, uma tentativa de homicídio — disse Gleisi.
Segundo Antônio Soares, motorista que dirigia o ônibus com os jornalistas, assim que o veículo foi atingido todos pensaram se tratar de uma pedrada. Ele contou ainda que, em seguida, verificou que dois pneus também foram furados por objetos pontiagudos.
— Assim que escutamos o barulho pensamos que era pedra, mas depois vimos as marcas (de tiro) — disse Soares.
Quedas do Iguaçu é cercada de assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. O locutor do evento de Lula referiu-se ao município como capital nacional da reforma agrária. A comitiva está programada para chegar hoje cedo em Curitiba, depois de uma viagem de mais de cinco horas entre Laranjeiras e a capital paranaense.
No Twitter, no perfil @Lula pelo Brasil, o ex-presidente disse que a caravana “está sendo perseguida por grupos fascistas. Já atiraram ovos, pedras. Hoje deram até um tiro no ônibus”.
Mais cedo, em Quedas do Iguaçu, o ex-presidente chamou de “selvageria” os atos contra ele na região. Ao discursar na praça central do município, Lula afirmou que aceita “todo tipo de protesto, o que não se aceita é a violência”:
— Nunca tinha assistido a uma selvageria como assistimos agora, de um grupo de pessoas que eu não sei quem são, que nos esperam em cada trevo com pau, pedra e bomba para tentar evitar que a nossa caravana chegue no lugar que está marcado.
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