- O Globo
A s ameaças ao ministro Edson Fachin e os tiros na caravana do expresidente Lula acrescentam um novo círculo ao inferno político-judicial do país. A violência armada, que já assombrava as ruas das cidades brasileiras, também passou a rondar a cúpula da Justiça e a eleição presidencial.
O ministro Fachin relatou as ameaças ao jornalista Roberto D’Avila, da GloboNews. O Supremo reforçou sua segurança, mas ele indicou que não está satisfeito com as providências. “Nem todos os instrumentos foram agilizados, mas eu efetivamente ando preocupado com isso, e esperando que não troquemos fechadura de uma porta já arrombada”, desabafou.
Fachin é relator dos processos da Lava-Jato, que envolvem grandes empresários e políticos de diversos partidos. O ministro não ligou as intimidações a um caso específico. Na virada do ano, 67 inquéritos corriam em seu gabinete.
Na caravana de Lula, a violência já saiu do campo das ameaças. Desde a semana passada, a comitiva tem sido alvo de pedradas e bloqueios em rodovias da Região Sul. Ontem à noite, três tiros atingiram os ônibus que transportam o ex-presidente e sua equipe. Os disparos perfuraram a lataria dos veículos, mas não deixaram feridos. No sábado, uma pedra atingiu o ex-deputado Paulo Frateschi, que teve a orelha macerada.
Os agressores se organizaram com antecedência pela internet. São ruralistas e militantes de direita que prometeram impedir, à força, a passagem do ex-presidente por seus estados. O PT acusa as polícias militares de fazer “corpo mole”.
Lula descreveu o cerco como “selvageria”, mas também sugeriu que a PM aplicasse um “corretivo” em quem lhe tacava ovos. Na segunda-feira, um segurança a serviço do partido socou um repórter que acompanha a caravana.
Num país dividido pela polarização política, seria excesso de otimismo esperar uma eleição livre de violência. Há cerca de 15 presidenciáveis na rua, e a Polícia Federal ainda nem informou como será o esquema de segurança das campanhas.
Esperar que algo aconteça para discutir o que fazer é apostar na doutrina da “porta arrombada”, como diria o ministro Fachin. Hoje completa duas semanas o assassinato da vereadora Marielle Franco.
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