Por Andrea Jubé e Carla Araújo | Valor Econômico
BRASÍLIA - Cresceram nos últimos dias as chances de que o presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, conquiste o cobiçado apoio dos partidos do Centrão (PP, DEM, PRB, PSC e SD). Até o início de julho, a balança pesava para o lado do pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, mas uma ofensiva do tucano virou o jogo.
Dois dirigentes do blocão confirmaram ao Valor o fortalecimento do nome de Alckmin no grupo. Hoje o tucano tem a preferência do PRB, de uma ala significativa do DEM, e de dissidentes das outras siglas. Na sexta-feira, o presidente do PRB e ex-ministro Marcos Pereira formalizou a desistência da sigla à pré-candidatura do empresário Flávio Rocha. No mesmo dia, horas depois, Alckmin e Pereira participaram de um evento em São Paulo, da igreja evangélica Sara Nossa Terra, no qual o tucano foi apresentado como "presidente". Os dois políticos, no entanto, afirmaram que o encontro foi uma "coincidência".
Outro movimento relevante de Alckmin foi a "boa conversa" com o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), na quarta-feira em Brasília. A avaliação dos tucanos é que o presidenciável do PSDB conseguiu vencer a resistência do senador. O presidente do PP é um dos mais veementes defensores da aliança com Ciro Gomes, sobretudo devido à força do pedetista no Nordeste. Nogueira tenta se reeleger ao Senado no Piauí, onde Ciro historicamente trafega melhor do que Alckmin.
O presidenciável do PSDB cresceu nos últimos dias porque ganha força no Centrão a leitura de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo preso, pode emplacar um candidato do PT no segundo turno. E nesse cenário não haveria espaço para dois candidatos de centro-esquerda no segundo turno.
Outro argumento é de que Alckmin é mais "estável e previsível". Com o tempo de propaganda na televisão ampliado com o apoio do bloco, e uma "comunicação estratégica", terá fôlego para subir nas pesquisas.
Além disso, o tucano acabou ganhando uma ajuda do Planalto depois de declarações do ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, responsável pela articulação política. Na sexta-feira, Marun advertiu que se o blocão optar pelo apoio a Ciro, deverá deixar a base aliada ao governo e os cargos. O PP, por exemplo, controla os ministérios da Saúde, Agricultura e Cidades e comanda a Caixa.
Marun disse ter avisado o presidente do PP sobre o descontentamento do presidente Michel Temer com as negociações do partido com Ciro Gomes. Nos bastidores, o ministro pediu o levantamento dos cargos de primeiro e segundo escalão que estão ocupados por esses aliados. Há uma insatisfação maior do Planalto com o eventual apoio ao presidenciável do PDT porque Ciro tem feito declarações enfáticas contra o governo. O pedetista chamou Temer de "quadrilheiro", e disse que o presidente "será preso" quando terminar o seu mandato.
O Planalto, no entanto, fez um gesto favorável a Alckmin. Marun disse que o eventual apoio dos aliados ao presidenciável do PSDB não contraria o governo, porque o tucano tem propostas semelhantes às defendidas pelo presidente Temer. "Alckmin não é o meu candidato, meu candidato é o [Henrique] Meirelles (MDB)", disse Marun. O ministro ponderou que o tucano tem propostas reformistas, embora não tenha tido posições claras em relação a elas na gestão Temer. Alckmin não foi enfático, por exemplo, no apoio à reforma da Previdência de Temer.
O blocão reuniu-se no sábado em São Paulo para reavaliar as preferências do grupo. O núcleo decisório desse bloco é composto pelos presidentes do PP, Ciro Nogueira; do DEM, ACM Neto; do PRB, Marcos Pereira; do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva, e pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Com a perspectiva de um eventual acordo com Alckmin, Ciro fez uma ofensiva pelo apoio do Centrão e pediu para reunir-se na manhã de sábado com as lideranças do grupo.
O encontro foi na casa do empresário Benjamin Steinbruch, filiado ao PP e cotado para ser vice de Ciro. Segundo relatos, o presidenciável do PDT teria se mostrado disposto a flexibilizar seu discurso, sobretudo nas propostas da área econômica, para viabilizar um acordo com o blocão.
Ciro negociou também com os dirigentes partidários possíveis alianças nos Estados e a presidência da Câmara na próxima Legislatura, cargo que Rodrigo Maia quer ocupar novamente.
O presidente do PP e o presidente da Câmara despontam como os principais cabos eleitorais de Ciro no blocão. Além da musculatura do pedetista no Nordeste, outra avaliação é de que Ciro tem mais envergadura para enfrentar o deputado Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro, pré-candidato do PSL e líder das pesquisas nos cenários sem a participação do ex-presidente Lula.
O Rio é a base eleitoral de Rodrigo Maia, onde Bolsonaro é quase hegemônico e o PSDB praticamente não existe. Os defensores de Ciro ponderam que o temperamento forte do pré-candidato, aliado a suas propostas, o habilitam mais para o enfrentamento a Bolsonaro. "O Ciro destrói o Bolsonaro", diz uma liderança do bloco.
Apesar das negociações com Ciro no sábado e dos acenos do presidenciável ao Centrão, não houve acordo do bloco sobre uma eventual aliança com o pré-candidato do PDT.
O blocão, com 133 deputados na Câmara, pretende definir o apoio a um dos pré-candidatos antes das convenções, que começam nesta sexta-feira, dia 20. Nesse mesmo dia, o PDT vai lançar oficialmente a candidatura de Ciro na convenção partidária.
A escolha do Centrão, porém, pode ser adiada e ficar para o início de julho, atrapalhando assim os planos de Ciro, que ainda não tem nenhum aliado. Os dois maiores partidos do grupo - PP e DEM, - agendaram para o fim do prazo suas convenções. O ato do DEM será no dia 2 de julho, e o do PP, no dia 3.
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