Não se pode prescindir do controle dos alimentos, bem como do uso de tecnologia na sua produção
Numa visão racional, ninguém defende falta de cuidados na produção e manejo de alimentos. Mas quando se parte para a vida real, em que existe toda sorte de interesses, há choques estrondosos em questões como a aplicação de novas tecnologias no campo. Os desentendimentos em torno da nova legislação sobre defensivos agrícolas, apelidada de Pacote de Veneno, são exemplares. Ou sobre os “agrotóxicos”, palavra que carrega um viés negativo.
É indiscutível que o manejo mal feito de qualquer produto químico — inclusive medicamentos — pode gerar efeitos até catastróficos. Há incontáveis relatos de contaminação de pessoas e do meio ambiente por agentes químicos usados no campo. Nem por isso, imagina-se que a produção agrícola possa prescindir dos avanços nos estudos genéticos e também dos defensivos agrícolas. Sem isso, as previsões malthusianas (de Robert Malthus, economista inglês do final do século XVIII), segundo as quais o crescimento da população não seria acompanhando pela oferta de alimentos, teriam sido confirmadas.
O economista errou porque o avanço tecnológico aumentou a oferta de alimentos. Só de 1990 ao ano passado, a população mundial deu um salto de 5,3 bilhões para 7,6 bilhões de habitantes, mais de 40%. Sem que houvesse escassez de alimentos. A fome que existe costuma ser devido à falta de renda. Não por escassez física do alimento. A chave está na tecnologia, nos avanços da ciência em vários segmentos da agropecuária.
É emblemática a história do americano Norman Borlaug, Prêmio Nobel da Paz de 1970, por ter patrocinado, a partir de seus experimentos com trigo e outros cereais, uma “revolução verde” no mundo. O prêmio se deve ao fato de que uma forma de evitar conflitos é impedir a fome.
Os defensivos agrícolas, ou “agrotóxicos”, são parte desta revolução, de que a Embrapa é protagonista de peso no Brasil.
É por tudo isso que a produção agropecuária brasileira, entre as três maiores do mundo em soja e carnes, cresce mais que a área de cultivo. Em grãos, projeta-se uma expansão de 21% em dez anos, para 288 milhões de toneladas, enquanto a área plantada crescerá 17%.
É portanto uma posição retrógrada, reacionária, ir contra a aplicação da ciência na agropecuária. Isso não significa defender o relaxamento da fiscalização e de controles na aplicação de produtos químicos na agropecuária ou quaisquer outros setores. Mas não se pode fechar os olhos à contribuição do conhecimento humano para o aumento da produção de alimentos, contrariando, felizmente, Malthus.
É importante, também, não deixar ideologias intoxicarem a questão. Ser contra “agrotóxicos”, como forma de combate ao “capital multinacional imperialista", é coisa de panfletos do final da década de 60. Há lobbies por todos os lados, inclusive a favor dessas empresas. Para contê-los, existem Ministério Público, Justiça, órgãos de pesquisa. Fechar as portas à modernização, por sectarismo, é demonstração de pouca inteligência.
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