domingo, 30 de setembro de 2018

Bruno Boghossian: De Collor a Bolsonaro

- Folha de S. Paulo

Jefferson enxerga 'colisão' na coalizão e Renan diz que consenso é 'dificílimo'

Não é fácil a vida de um presidente eleito por um partido nanico, que faz fama com ataques à elite política e tem pouca habilidade para costurar alianças. Dois escudeiros de Fernando Collor, que vivenciaram os apertos do poder, anteveem obstáculos que um candidato como Jair Bolsonaro (PSL) pode enfrentar para governar caso seja eleito.

“O Bolsonaro não conhece coalizão. Conhece colisão”, diz Roberto Jefferson (PTB), integrante da tropa de choque de Collor no processo de impeachment de 1992. “Ele vai ter que aprender a construir relacionamentos. Democracia é diferente.”

Jefferson é aliado de Geraldo Alckmin, mas seu partido tende a estar com Bolsonaro num segundo turno contra o PT —com quem rompeu após o mensalão. Ele diz não ver semelhança entre o ex-presidente e o deputado do PSL, e compara: “Collor acabou jogando o jogo. Cedeu ao Congresso até certo ponto. Não sei se será assim com o Bolsonaro”.

Renan Calheiros, que apoia Fernando Haddad (PT), desconfia. “É difícil que o Bolsonaro construa uma convergência, a não ser que ele faça uma autocrítica sobre o que já defendeu. Considero isso dificílimo.”

Então deputado, ele foi um dos principais artífices da eleição de Collor e virou líder do governo, até que se sentiu traído e abandonou o barco oito meses depois da posse.

Renan lembra que Collor recebeu apoio do Congresso, mas a lua de mel durou pouco. “No início, aprovou-se tudo porque os partidos queriam ajudar. Depois, começaram as contradições, os desgastes, a rejeição. Ficou todo mundo contra.”

Para Jefferson, o problema de Collor foi a divisão provocada pela eleição de 1989. Renan acredita que o presidente errou ao não propor uma agenda de consenso para compensar a fraqueza de sua sigla, o PRN.

Derrotado no impeachment de Collor, Roberto Jefferson duvida que o Congresso tenha coragem de derrubar o futuro presidente. “O pessoal vai lembrar que o vice não será o Itamar. É Manuela ou general Mourão. Todo mundo vai pensar duas vezes.”

Nenhum comentário: