segunda-feira, 4 de março de 2019

Rússia pede reunião com EUA sobre Venezuela, mas Washington volta a subir o tom contra Maduro

Moscou afirma que fará todo o possível para impedir uma intervenção militar americana e reforça apoio ao líder Nicolás Maduro

Redação, O Estado de S.Paulo

MOSCOU - A Rússia garantiu neste domingo, 3, que fará todo o possível para evitar uma intervenção militar dos Estados Unidos na Venezuela e disse estar pronta para realizar negociações bilaterais com Washington sobre a questão. Neste domingo, a presidente da Câmara Alta do Parlamento russo, Valentina Matviyenko, se reuniu com a vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, e reafirmou o apoio de Moscou ao país sul-americano.
“Nos preocupa muito que os EUA possam realizar provocações para que seja derramado sangue (na Venezuela), encontrando assim uma desculpa para intervir”, afirmou Valentina.

No sábado 2, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, havia dito ao colega americano, Mike Pompeo, em uma conversa telefônica, que Moscou estava disposta a um dialogo com Washington.

“Em conexão com a proposta de Washington de realizar consultas bilaterais sobre o assunto, ficou posto que a Rússia está pronta para participar disso. É vital (esta discussão) ser estritamente guiada pelos princípios da Carta das Nações Unidas, uma vez que apenas o povo venezuelano tem o direito de determinar seu futuro”, disse o comunicado da chancelaria russa após a ligação – iniciada pelo governo americano.

Neste domingo, no entanto, o assessor de Segurança da Casa Branca, John Bolton, voltou a subir o tom contra o governo de Nicolás Maduro e disse que os EUA tentam formar uma “ampla coalizão” internacional para substituí-lo.

“Gostaria de ver uma coalizão tão ampla quanto for possível juntar para substituir Maduro, para substituir todo o regime corrupto. Isso é o que estamos tentando fazer”, afirmou Bolton em entrevista à rede de televisão americano CNN.

A Rússia e os EUA têm estado em desacordo sobre a campanha liderada pelos americanos, com apoio de países da América Latina, pelo reconhecimento internacional de Juan Guaidó, líder da oposição venezuelana que se declarou presidente interino e pediu eleições antecipadas em seu país.

Retórica.
Para a congressista russa Valentina, a atitude da Casa Branca com relação à Venezuela é “especialmente cínica para um país que se posiciona no mundo como partidário da democracia”.

Perguntado pela CNN se o endosso americano no passado a “ditadores brutais” em todo o mundo não prejudica a credibilidade dos seus argumentos sobre a Venezuela, Bolton disse taxativamente: “Não, não acho”.

Bolton também comentou sobre sua intensa atividade no Twitter e disse que chegou a publicar 150 mensagens sobre a Venezuela, a maioria em espanhol, para obter apoios para “a transição pacífica de poder de Maduro para Juan Guaidó”.

Para Moscou, essas iniciativas de países do Ocidente violam o direito internacional e os estatutos da ONU. “A comunidade internacional está obrigada a frear essas tendências e impedir essa evolução dos acontecimentos”, argumentou Valentina, se referindo ao uso de força para mudar a presidência venezuelana.

A vice-presidente da Venezuela garantiu durante a reunião em Moscou que Caracas está disposta a fornecer petróleo em troca do apoio russo em matéria de energia, armamento, tecnologia e finanças.

Delcy é a representante de mais alto cargo no chavismo, depois de Maduro, a viajar à Rússia desde que Guaidó foi reconhecido por mais de 50 países – entre eles EUA e Brasil – como líder interino da Venezuela.

Aliados.
Tanto na entrevista à CNN, quanto em outra dada neste domingo ao canal Fox News, o assessor de Segurança dos EUA criticou a influência de Cuba na Venezuela. “Parte do problema na Venezuela é a forte presença cubana. Existem 20 mil ou 25 mil funcionários da segurança cubana, conforme informações públicas. Isso é o tipo de coisa que nos parece inaceitável”, afirmou Bolton.

Esse também é um tema de discussões entre EUA e Rússia. Segundo Valentina, Cuba e Nicarágua estão na lista de países que Washington quer intervir para mudar o comando. / EFE e REUTERS

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