Recuo na nomeação de Ilona Szabó e intervenção de Bolsonaro na Previdência mostram os limites dos poderes de Moro e Guedes, supostos superministros
No episódio em que o governo convidou e desconvidou a especialista em segurança pública Ilona Szabó para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, o que chama a atenção de mais imediato é o grau de estupidez das hordas bolsonaristas mais radicais.
Colunista desta Folha e crítica de teses pró-flexibilização de posse e porte de armas, a pesquisadora foi chamada pelo ministro Sergio Moro, da Justiça, a compor um colegiado de funções meramente consultivas, na condição de suplente.
A escolha suscitou uma corrente de ataques de militantes direitistas nas redes sociais, à qual não ficou alheio, tudo indica, o presidente da República. Após um dia de alarido, Moro voltou atrás.
“Diante da repercussão negativa em alguns segmentos, optou-se por revogar a nomeação, o que foi previamente comunicado à nomeada e a quem o ministério respeitosamente apresenta escusas”, relatou uma nota oficial.
Não surpreendem, infelizmente, o sectarismo e a agressividade de comunidades digitais, fenômeno que também se observa à esquerda. Mais preocupante é que a demonização da divergência se estenda a condutas de governo.
O caso contribui, ademais, para desmistificar a condição de superministro atribuída a Moro desde a formação da equipe do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
Evidente que o ex-juiz da Lava Jato, dada a sua reputação, tende a dispor de autonomia superior à média observada entre os colegas de primeiro escalão. Isso não significa carta branca —ou o poder de agir sem levar em conta as conveniências políticas do governo, mesmo as mais comezinhas.
O mesmo se pode dizer do titular da Economia, Paulo Guedes, também cercado da aura de superpoderoso. Na semana passada, ele passou pelo dissabor de acompanhar pela imprensa declarações de Bolsonaro indicando recuos na proposta de reforma da Previdência.
Conforme se noticiou, a entrevista concedida pelo presidente irritou o ministro e levou preocupação também à ala militar do Executivo. Nesses setores se fala em tentar limitar as manifestações públicas do chefe, a fim de evitar constrangimentos e dificuldades políticas. O plano não soa promissor.
A ideia de um mandatário voluntariamente tutelado por nomes de excelência técnica pode parecer sedutora —o próprio Bolsonaro a estimulou, em particular no caso de Guedes, seu “posto Ipiranga”, que tornou sua candidatura mais palatável a boa parte das elites intelectual e econômica do país.
Trata-se de uma ilusão, porém, imaginar que se possam delegar tão facilmente os poderes e as responsabilidades do presidente. Afinal, neófito e despreparado, foi ele quem obteve quase 58 milhões de votos há apenas quatro meses.
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