- Folha de S. Paulo
Na hora em que abrir vaga no Supremo, a Ilona pode ser o senhor
A cientista política Ilona Szabó é uma especialista respeitada na área de segurança pública. Ao contrário do ministro do Meio Ambiente e da ministra dos Direitos Humanos, seus diplomas são de verdade, ela foi lá na faculdade, estudou, passou na prova, recebeu o título.
Seu currículo justifica sua nomeação para uma suplência do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Mas suspeito que o ministro da Justiça, Sérgio Moro, também a tenha nomeado para testar quanta autonomia, de fato, ele tinha.
Se foi isso, descobriu.
O superministro Moro não tem autonomia para nomear, para a suplência de um conselho consultivo, alguém de quem os seguidores do presidente da República no Twitter não gostem.
Szabó durou muito menos no cargo do que Murilo Resende Ferreira, indicado pelo ministro da Educação para organizar o Enem. Ferreira foi acusado de plagiar um texto de extrema-direita sobre “Escola de Frankfurt e feiura”. É até difícil saber o que era pior, ser de extrema-direita, ser plágio, ou ser sobre “Escola de Frankfurt e feiura”.
Mesmo depois das acusações, Ferreira foi realocado em outro cargo, ao contrário do que aconteceu com Szabó.
E contra ele não houve uma insurreição virtual como a da semana passada. Bolsonaro não o demitiu no dia seguinte às acusações, porque, afinal, pelo menos o texto plagiado era de extrema-direita. O trabalho original de Szabó não é.
O Jair é isso, Moro. Não vai mudar.
Suspeito que Sergio Moro, como muita gente que votou em Bolsonaro, tenha comprado a ideia de que o Jair era um político normal, que faria um governo de direita normal. Não é.
Na semana passada, Jair elogiou o ex-ditador pedófilo do Paraguai. O ministro da Educação tentou implementar um projeto de culto ao líder nas escolas. Vetaram a nomeação de Ilona Szabó.
Tudo isso em cinco dias.
Se as coisas não pareciam estar indo nessa direção até agora, era porque o Jair estava de licença médica.
Coisas que parecem bizarras em um presidente democrata fazem todo sentido em um ditador. Em várias
ditaduras membros da família do ditador fazem o papel de instituições de governo.
Bolsonaro não tem ideia sobre como negociar com o Congresso, mas vocês têm certeza de que ele quer negociar com o Congresso? O purismo que se manifestou no caso Szabó é bizarro para um gestor de nosso presidencialismo de coalizão, mas em movimento fascista é a regra.
Para contraste: a esta altura do governo Lula, empresários e fazendeiros ocupavam posições chave no ministério. Palocci havia chamado a turma liberal do “Agenda Perdida” para sua equipe na Fazenda. O presidente do Banco Central era um deputado eleito pelo PSDB.
Fernando Henrique Cardoso nomeou como ministro da Cultura Francisco Weffort, um dos maiores intelectuais petistas.
Não, não é porque PT e PSDB fossem todos comunistas. É porque ambos disputavam a política democraticamente, e tinham todo interesse do mundo em conquistar eleitores do outro lado.
Não são esses os planos do chefe, ministro.
Por fim, um aviso. O senhor topa aderir ao programa “Viktor Orbán” de Bolsonaro? O senhor topa acobertar as picaretagens dos bolsonaristas, discriminar minorias, perseguir adversários do governo?
Se não topar, cuidado. Porque na hora em que abrir vaga no STF, a Ilona pode ser o senhor.
*Celso Rocha de Barros é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).
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