- Folha de S. Paulo
Aficionados e especialistas nas potências mediterrâneas da Antiguidade oferecem obras estupendas
“Quando os cidadãos tomam por asseguradas a saúde e a durabilidade da sua República, essa República está sob risco. Isso era tão verdadeiro em 133, 82 ou 44 a.C. como é em 2018 d.C.” Assim o historiador americano Edward J. Watts conclui seu recente volume “Mortal Republic”.
Os classicistas voltaram à moda, o que beneficia o público com obras estupendas. É o caso de Mary Beard com seu “SPQR” (em português pela ed. Crítica), a velha insígnia designando a união entre o Senado e o povo romanos.
O professor de Stanford Walter Scheidel, em “The Great Leveler” (o grande nivelador), percorre milhares de anos de história documentada, levanta diversos achados acadêmicos e arqueológicos de vanguarda e arrisca uma hipótese lúgubre sobre a desigualdade. Apenas ocorrências de violência extrema —como guerras totais, pandemias e colapso político— contribuem para frear a tendência milenar à concentração da renda e da riqueza.
A mudança climática tampouco escapa do olhar atual sobre as potências do passado. Em “The Fate of Rome” (o destino de Roma), Kyle Harper, da universidade de Oklahoma, mostra a coincidência entre o período de auge daquela civilização e uma janela de 350 anos de clima altamente favorável à vida e à agricultura na região.
A onda se reflete nos podcasts, com séries como a da Grécia antigatocada por Ryan Stitt, um militar americano. Com quase 200 episódios, um programa que abrange da fundação do reino à queda do Império Romano transformou o aficionado Mike Duncan num popstar.
Mais recentemente, Duncan publicou o livro “The Storm before the Storm” (a tempestade que antecede a tempestade). Dialoga com a interpretação de Watts que citei no início.
Dica: releve as grandes teses, todas furadas em algum ponto, e delicie-se com a cornucópia de narrativas excelentes e novidades da pesquisa que esse modismo do bem traz até nós.
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