Por Carla Araújo e Mariana Muniz | Valor Econômico
BRASÍLIA - Mesmo depois de uma nota da Secretaria de Governo do Palácio do Planalto dizendo que a Lei das Estatais proíbe interferência em propaganda com fins mercadológicos, o presidente Jair Bolsonaro demonstrou convicção sobre sua interferência no Banco do Brasil na semana passada. Indicando que novas atuações nesses moldes podem ocorrer, Bolsonaro disse que o objetivo por trás de intervenções seria preservar os recursos públicos e garantir que sua linha de pensamento será seguida.
"Quem indica e quem nomeia o presidente do Banco do Brasil? Sou eu? Não preciso falar mais nada então", disse o presidente no sábado. "A linha mudou, a massa quer o quê? Respeito a família, ninguém quer perseguir minoria nenhuma. Não queremos que dinheiro público seja usado dessa maneira", completou.
À tarde, após outro evento, Bolsonaro demonstrou certo desdém com a insistência dos jornalistas sobre o que ele teria visto de errado na propaganda do banco. "Você se olhou no espelho?", respondeu a um repórter que o questionava.
O presidente vetou uma campanha de marketing do Banco do Brasil, voltada para o público jovem e protagonizada por atores e atrizes negros e tatuados. O episódio culminou com a queda do diretor de comunicação e marketing do banco, Delano Valentim.
Questionado se iria mudar as normas atuais, Bolsonaro deu a entender que poderá alterar o que não for alinhado ao seu governo. "Não é minha linha. Eu tinha uma linha, armamento. Eu não sou armamentista? Então, ministro meu ou é armamentista ou fica em silêncio. É a regra do jogo", disse. "As pessoas sabem que eu fui eleito com uma agenda conservadora, defendendo a maioria da população brasileira, seus comportamentos. Quem quiser fazer diferente do que a maioria quer que não faça com verba pública", salientou.
A questão é tida como viável juridicamente, mas dependeria de projeto de lei ou medida provisória, ou seja, de respaldo do Congresso em um momento no qual o governo tem outras prioridades. A autonomia das empresas federais está em debate há algumas semanas, desde que o presidente obrigou a Petrobras a reverter um reajuste no preço do diesel. A medida, depois revertida, levou a uma forte queda de valor das ações da petrolífera e a uma preocupação sobre qual seria o grau de interferência do Planalto nas estatais.
Em um fim de semana midiático, Bolsonaro também deu destaque em sua rede social a um vídeo no qual uma aluna questiona críticas de uma professora de cursinho ao governo e ao guru bolsonarista, Olavo de Carvalho. Na postagem, o presidente diz que "professor tem que ensinar, e não doutrinar". No material, a aluna diz à professora que paga para ter aulas de gramática, mas que a educadora teria ficado 25 minutos falando de política na aula.
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