Dissidências na votação da reforma denunciam superação de partidos pela realidade
Se há uma polarização no país entre direita e esquerda, existem nuances em função da variedade de opções que se encontram no tabuleiro político. Trata-se de um conflito circunstancial, porque a tendência da sociedade é o centro. E toda vez que a conjuntura leva a extremos, como agora, dissidências surgem de lado a lado.
Desta vez à esquerda, ainda plasmada pela visão nacional-populista e estatizante do lulopetismo. Mas também há liberais que discordam do bolsonarismo, e são muitos, pelo que se constatou nas eleições de outubro. Por serem antipetistas, deram a vitória ao ex-capitão. A aprovação de Bolsonaro mergulhou nas primeiras semanas de governo pelo distanciamento deste grupo.
Há regras de fidelidade partidária, mas nem sempre elas estão adequadas ao momento. E mesmo que a legislação ainda seja muito permissiva à pulverização partidária, o grande número de legendas com representatividade no Congresso, mais de duas dezenas (devido a uma cláusula de barreira ainda pouco efetiva), não é capaz de abranger a diversidade de posições de parlamentares sobre temas-chave. Como a reforma da Previdência, diante da qual, nos partidos de esquerda PDT e PSB, mesmo com o fechamento de questão contra o projeto, foi impossível manter unidas as respectivas bancadas.
No PSB, 11 dos 32 deputados (34%) e, no PDT, oito dos 27 (30%), parcelas substanciais, não seguiram a determinação das cúpulas partidárias. Podese dizer que assim quis a maioria do partido. Então, não há espaço nas legendas para votos de consciência.
E a reforma previdenciária tem uma lógica tão sólida, que um mínimo de honestidade intelectual deveria levar o político a pensar sem preconceitos sobre o problema. Mas é pedir demais.
A reação da cartolagem partidária contra os dissidentes do PDT e PSB denuncia que camisas de força ideológica e a estreiteza no entendimento da realidade brasileira não concedem espaço para jovens políticos com nova abordagem dos problemas do país.
É por isso que Tabata Amaral, jovem deputada pelo PDT de São Paulo, e outros vêm de movimentos surgidos à margem dos partidos tradicionais, onde falta oxigênio para a renovação. A deputada, por exemplo, foi fundadora do grupo Acredito e atuou no RenovaBR.
Houve um forte movimento de regeneração no Congresso. Na Câmara, 47,3%, quase tanto quanto na eleição da Constituinte de 1987, convocada para restabelecer as instituições democráticas. No Senado, 85% das 54 vagas disputadas (46) são ocupadas por novos nomes.
Nem todo estreante no Legislativo ajudará no saneamento da política, mas os números são significativos. A aspiração por novos padrões no exercício da política esbarra em velhas estruturas, como a partidária. Mas este caminho precisa ser sem volta.
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