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Pelo que fez de errado, por ora nada...
Havia duas maneiras de dar uma prensa na Lava Jato. Uma, pelo que ela possa ter feito de errado. Outra, pelo que possa ter feito de certo no combate à corrupção.
Na hora em que são revelados erros à luz das conversas vazadas entre o ex-juiz Sérgio Moro e os procuradores de Curitiba, a prensa na Lava Jato se fez por seus acertos.
Estão suspensos processos e investigações em que órgãos administrativos compartilharam informações fiscais com o Ministério Público sem anuência prévia da Justiça.
Segundo o coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Rio, Eduardo El Hage, a exigência de autorização judicial “ignora a forma de atuar dos criminosos e é um retrocesso”.
De fato, é um retrocesso. Em 2016, por 9 votos contra 2, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o compartilhamento de informações fiscais dispensa autorização judicial.
Contudo, o ministro Dias Toffoli, presidente do tribunal, preferiu ignorar a decisão para atender a um pedido da defesa do senador Flávio Bolsonaro, investigado por corrupção.
Mais do que Flávio, o pai dele contraiu uma dívida com o ministro. O caso Flávio-Queiroz pesa sobre Jair Bolsonaro como uma cruz de ferro. É uma ameaça ao seu mandato.
Em novembro próximo, o plenário do tribunal confirmará ou revogará a decisão de Toffoli. Até lá, Flávio ficará em paz. Os demais nas mesmas condições dele, não obrigatoriamente.
Dará mais trabalho, levará mais tempo, mas o Ministério Público sempre pode pedir a um juiz criminal que autorize investigações. E os juízes quase sempre acatam o pedido.
Sob o anonimato, juristas com trânsito nos tribunais superiores observam que o Ministério Público abusava de suas prerrogativas. A decisão de Toffoli seria um freio de arrumação.
A ser assim, espera-se que haja algum outro tipo de freio – desta vez para punir ou reverter possíveis erros cometidos pela Lava Jato de Curitiba na condução de processos.
Só não ver quem se finge de cego o comportamento parcial do ex-juiz Moro à frente do processo do tríplex do Guarujá que resultou na condenação do ex-presidente Lula.
As relações de Moro com os procuradores foram promíscuas. Ele favoreceu a acusação em detrimento da defesa. O respeito à lei não é opção. Pois bem: ele optou por desrespeitá-la.
Quanto mais novas conversas vêm a público, mais aumenta a indignação dos que ainda são capazes de se indignar – uma parcela decrescente dos brasileiros. Tempos estranhos!
Mas não importa. Nem sempre a manada escolhe o melhor caminho. Com frequência, deixa-se enganar pelos que a lideram. A história está cheia de exemplos disso.
Moro passa recibo pelo sufoco em que vive
Aguente o tranco ou peça para ir embora
Bons tempos para Sérgio Moro quando ele ainda era juiz, e por comandar a Lava Jato, faturava como ninguém os prodígios do combate à corrupção e era uma unanimidade nacional.
Os jornalistas mendigavam sua atenção. Seus patrões o mimavam com prêmios. Os militares o festejavam com as condecorações possíveis. Era Moro acima de tudo, só abaixo de Deus.
Bastou que se tornasse alvo de denúncias para que, de aliado incondicional da imprensa, admirador da sua busca pela verdade, ele se tornasse um crítico azedo da liberdade de informação.
Embora de licença do cargo, em viagem de descanso para os Estados Unidos onde se sente em casa e protegido, Moro deu-se ao trabalho de ir ao Twitter escrever:
“Sou grande defensor da liberdade de imprensa, mas essa campanha contra a Lava Jato e a favor da corrupção está beirando ao ridículo”.
Moro acusou a imprensa de estar em campanha contra a Lava Jato e de ser a favor da corrupção! Mudou o Natal, mudou ele depois que virou ministro de Bolsonaro ou foi a imprensa que mudou?
Apontar eventuais erros cometidos por Moro e procuradores da República na condução da Lava está longe de significar que a imprensa passou para o lado dos corruptos.
Não conheço um único texto de jornal, uma única fala de jornalista no rádio e na televisão que faça a defesa da corrupção. Ou que ignore os retumbantes êxitos da Lava Jato.
Moro quer jogar seus devotos contra a imprensa. E quer enrolar-se na bandeira da Lava Jato para escapar de críticas. É assim que procedem homens públicos em desespero aqui e em toda parte.
Foi um mau negócio o que fez Moro ao trocar a toga pelo terno bem comportado de ministro de quem se elegeu presidente da República surfando nos seus méritos. Aguente o tranco ou peça para sair.
E os garotos, hein?
Carlos é o que mais preocupa Bolsonaro
Por ora, tudo bem com o senador Flávio Bolsonaro. Abrigado sob a toga do ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, ganhou um período de descanso pelo menos até o final de novembro. Depois disso, o provável é que volte a se afligir.
O deputado Eduardo Bolsonaro virou o novo queridinho do pai. Está prestes a ser indicado para embaixador no país dos seus sonhos, onde aprendeu a fritar hambúrguer. Mas verá, em breve, que seu pai pode muito, mas não pode tudo.
O vereador Carlos Bolsonaro atravessa um período cinzento. Perdeu a condição de dono do dono da voz. Está sob rédea curta nas redes sociais. Assiste ao deslumbramento do irmão com quem se dá bem (Eduardo) e ao sossego temporário do outro com quem não se dá.
Não significa que não possa voltar ao centro do palco. Ele dispõe de uma arma que os outros não têm: a capacidade de meter medo no pai com sua instabilidade emocional. É seu maior trunfo.
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