Para líderes da esquerda, saída de deputado da corrida pela prefeitura do Rio aumentaria chances do candidato do DEM de chegar ao segundo turno; PT, até então principal aliado do PSOL, já estuda lançar Benedita da Silva
Juliana Castro | O Globo
RIO — A saída do deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) da disputa pela prefeitura do Rio embaralhou o ainda indefinido jogo eleitoral e as negociações entre a esquerda em território fluminense. Nos bastidores, há uma avaliação de que, inicialmente, a desistência de Freixo acaba beneficiando o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM). O PT, partido que mantinha a negociação mais sólida com o PSOL, agora trabalha para convencer a ex-governadora Benedita da Silva a ser candidata, mas, também por causa da divisão entre os partidos do mesmo campo ideológico, ela ainda resiste à ideia.
Em entrevista ao GLOBO na semana passada, Freixo informou que abriu mão da candidatura à prefeitura do Rio após não ter conseguido unir as siglas de esquerda. Existe uma fissura, com PDT, PSB e Rede de um lado e PT, PCdoB e PSOL de outro nacionalmente, num efeito cascata que vem desaguando nas articulações municipais. O PDT, por exemplo, tem a deputada estadual Martha Rocha como pré-candidata.
— A gente passou a trabalhar agora efetivamente com a candidatura própria e o nome que estamos tentando convencer é o da Benedita — disse Washington Quaquá, vice-presidente nacional do PT e ex-presidente estadual do partido no Rio, afirmando que, apesar da nova empreitada, a sigla não dispensará conversas para um acordo mais amplo com os demais partidos de esquerda.
Segundo turno
Quaquá é um dos que entendem que a saída de Freixo acaba, inicialmente, ajudando Paes. Há uma leitura de que isso facilita a ida a um segundo turno com o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), que vai tentar a reeleição, um cenário considerado por adversários bom para Paes.
— Acho que, aqui no Rio, a saída de Freixo desarticula o campo de esquerda e abre espaço inicial para o Eduardo, mas, se a esquerda conseguir se unir, acaba ocupando de volta esse espaço — disse.
Sem Freixo na disputa, o PSOL deve decidir por um nome para trabalhar nas negociações. Dentro do partido, havia outras pré-candidaturas mesmo quando o deputado federal se colocava como um dos postulantes.
— A gente considera que é uma perda, é o melhor nome que temos, mas as razões apontadas por ele (Freixo) são legítimas — afirmou o vereador Tarcísio Motta, para quem Paes e também Crivella se beneficiam com a desistência de Freixo: — Seja Paes, com a turma do ex-governador Sérgio Cabral, seja Crivella, os dois grupos se beneficiam com o enfraquecimento da esquerda.
Para o vereador, o PSOL é o partido mais forte das últimas eleições municipais e “é natural” que coloque em jogo um nome para encabeçar uma chapa. Foi com Freixo em 2012, contra Paes, e em 2016, contra Crivella, que a esquerda obteve seus melhores resultados nos pleitos municipais na capital fluminense. O PT chegou ao governo apoiando Paes, inclusive com o cargo de vice-prefeito, com Adilson Pires, mas não era uma aliança de esquerda. Em outras eleições, como em 2008, com Jandira Feghali (PCdoB) e Alessandro Molon (na época no PT, hoje no PSB), os resultados foram ruins. Molon concorreu em 2016 pela Rede e obteve apenas 1,43% dos votos válidos.
“Sempre fomos a favor da maior aliança possível, capaz de derrotar o atraso que hoje governa o Rio e o Brasil. Para facilitar essa aliança, o PSB nunca apresentou pré-candidato à prefeitura do Rio e jamais se recusou a dialogar com os partidos comprometidos com a democracia. Se tem um partido que não é obstáculo à construção de alianças em favor do Rio e do Brasil, esse partido é o PSB”, disse Molon em nota, contradizendo o que Freixo disse de que não conseguiu sentar com o PSB para uma reunião.
Há quem veja que outros caciques tenham contribuído para a decisão de Freixo.
— Desconfio que Lula e Rodrigo Maia tenham ajudado nessa decisão avaliando que Freixo perderia um eventual segundo turno — disse a deputada federal Clarissa Garotinho (PROS), pré-candidata à prefeitura do Rio.
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