Trump defende adiar eleições; eventual vitória de Biden pode mudar economia
A três meses da eleição presidencial americana, o ambiente é desfavorável a Donald Trump. A insensatez com que conduziu o país durante a pandemia e a postura de confronto que adotou diante dos protestos nacionais contra o racismo se mostraram desastrosas para sua popularidade.
A crise sanitária também abalou o principal pilar de sustentação do presidente americano —a economia. A contração do Produto Interno Bruto no segundo trimestre, de 9,5% ante o anterior, foi a maior da série histórica e levou a um aumento dramático do desemprego.
As pesquisas hoje apontam o favoritismo do candidato democrata, Joe Biden, com 50% das intenções de voto, 9 pontos à frente do republicano na média das sondagens. No sistema americano, é fato, os números nacionais não são em si definidores. A vitória depende da maioria no colégio eleitoral, o que remete aos resultados estaduais.
Mas também aí a situação de Trump se complica. Estados tradicionalmente republicanos, como o Texas e o Arizona, parecem pender para Biden. O mandatário ainda perde terreno em estados pêndulo que foram fundamentais para sua vitória em 2016, casos de Flórida, Pensilvânia e Michigan.
Não surpreende, assim, que o presidente populista venha atuando para deslegitimar o pleito. Sua leviandade fica escancarada quando defende adiamento da eleição —o que está além de seu poder, fora ser desnecessário— e afirma que a votação por correio abrirá espaço para fraudes.
A eventual derrota republicana, aliás, pode se estender ao Senado. Se isso ocorrer com a eleição de Biden, e tendo em vista o controle democrata já garantido na Câmara, haveria espaço para mudança ampla das políticas econômicas e sociais na nova administração.
Seriam plausíveis, por exemplo, uma reversão dos cortes de impostos sobre empresas adotados em 2017, maior disposição para investimentos em infraestrutura e reformas na regulação dos setores de tecnologia e saúde.
Evidências de poder oligopolista dos quatro gigantes tecnológicos —Apple, Amazon, Google e Facebook— já mobilizam o Congresso e tendem a levar a medidas em prol de maior competição.
O ponto de aparente concordância entre os dois lados é a disposição para a rivalidade estratégica com a China, que deve continuar. Mas o democrata provavelmente tentaria reforçar alianças na Europa e na Ásia, além de patrocinar algum retorno ao multilateralismo.
Ainda é cedo para apostar em Biden, que não deixa de se mostrar um candidato insosso, e as atenções estarão voltadas à escolha de seu companheiro (ou companheira) de chapa. Se a pandemia arrefecer e houver alguma retomada da economias próximos meses, Trump pode, em tese ao menos, recuperar-se nas pesquisas.
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