A possível mudança no comando da Casa Branca já torna palpável o prejuízo econômico ao país
Jair Bolsonaro passou ano e meio se esforçando para garantir lugar na galeria do exotismo nas relações internacionais, ao lado de outros ativistas da diplomacia de terra arrasada, nomes como Kim Jong-un, da Coreia do Norte, Nicolás Maduro, da Venezuela, ou Gourbangouly Berdymukhamedov, do Turcomenistão — trio até folclórico, para quem não vive sob seus regimes autoritários.
Bolsonaro já atacou líderes da Alemanha, da França, da Noruega, da ONU e da OMS. Vazou rancor contra o presidente de Argentina. Solapou as relações com países árabes e com a China, cliente de 25% das exportações brasileiras. Substituiu a ambiguidade, força vital da diplomacia, por um rosário de insultos. Submeteu-se, subserviente, ao presidente americano Donald Trump, a quem procura mimetizar, até no estilo malcriado, na execução de um projeto só distinguível pelo extremismo.
Com auxílio dos filhos — os “zero” como a eles se refere —, e do chanceler Ernesto Araújo, passou a cultivar o confronto com o Partido Democrata, cujo candidato tem chance real de se eleger presidente e tende a manter o controle da Câmara. Não surpreende, portanto, o repúdio do deputado Eliot Engel, democrata de Nova York e presidente da Comissão de Relações Exteriores, à “vergonhosa e inaceitável” propaganda de Trump difundida pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Os vínculos de Bolsonaro com Trump tendem a dificultar as relações com um eventual governo do candidato democrata Joe Biden. Ex-vice de Barack Obama, Biden é reconhecido como hábil negociador. Em 2014, convenceu a então presidente Dilma Rousseff a isentar Obama e culpar o antecessor, George W. Bush, pela espionagem na “estação” de Brasília das agências NSA e CIA.
O cenário hoje é mais complexo. Em maio, a maioria democrata no comitê de tributação — o principal do Congresso — anunciou bloqueio à “associação econômica de qualquer alcance” dos EUA com o governo Bolsonaro por “ignorar o estado de direito” e atuar para desmantelar “o difícil progresso em direitos civis, humanos, ambientais e trabalhistas”.
Os Bolsonaros adquiriram o hábito da interferência indevida em assuntos domésticos de outras nações. Ano passado, o pai-presidente intrometeu-se na disputa eleitoral argentina. Copiou Lula, que fez campanha para Hugo Chávez na Venezuela, Cristina Kirchner na Argentina, Ollanta Humala no Peru, e Evo Morales na Bolívia.
É certo que Lula foi além, ao mobilizar o PT e até empreiteiras “amigas” para financiar candidaturas de aliados na América do Sul. O resultado está aí, nos múltiplos casos regionais de corrupção protagonizados pela Odebrecht. Mas as interferências indevidas de Bolsonaro e família nas relações externas já trazem danos aos interesses econômicos nacionais. Como se sabe, em política tudo é possível, menos evitar as consequências.
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