Às
15h de terça-feira, o sistema de computadores do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) foi invadido, e os trabalhos da Corte só voltarão ao normal nesta semana
Às
15h de terça-feira, o sistema de computadores do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) foi invadido, e os trabalhos da Corte só voltarão ao normal nesta semana.
O
episódio mostra que os computadores da Viúva continuam sendo administrados de
forma leviana. No mundo das altas competências, no século passado o governo
brasileiro já pagou o mico de ter um sistema de criptografia das embaixadas
protegido por equipamentos de uma fábrica suíça que tinha um sócio oculto, a
Central Intelligence Agency americana. No governo Dilma Rousseff, descobriu-se
que algumas de suas comunicações também estavam grampeadas.
Não
se sabe o propósito dos invasores do STJ, pois achar que o tribunal tem meios
ou recursos para pagar um resgate não faz sentido. Sabe-se, contudo, que a rede
oficial de informática está contaminada por dois vícios elementares, que nada
tem a ver com altas competências. É pura incompetência. Em muitas áreas, quando
muda o chefão, ele troca a equipe de tecnologia. Mesmo em áreas onde isso nem
sempre acontece, os hierarcas usam seus endereço da rede oficial para tratar de
assuntos pessoais. Nos Estados Unidos a secretária de Estado Hillary Clinton
pagou caro por isso. Assuntos oficiais e comunicações pessoais são coisas
diversas. Se essa banalidade não é respeitada, só se pode esperar que o sistema
esteja bichado em outras trilhas.
Essa
incompetência não acontece por causa da herança escravocrata. Ela é produto de
uma indústria da boquinha em quase tudo que tem a ver com informática. Prova
disso é que o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação armou uma licitação
viciada de R$ 3 bilhões há mais de um ano, foi apanhado, cancelou a maracutaia,
mas até hoje não explicou como o edital foi concebido.
Na
compra de equipamentos, pode-se pegar o jabuti quando ele quer mandar 117
laptops para cada um dos 255 alunos de uma escola. Quando as contratações vão
para escolha de operadores, manutenção e até mesmo programação entra-se num
mundo complexo, atacado por amigos que têm conexões, mas não têm competência.
No
caso da invasão das máquinas do STJ, surgiu um perigoso efeito colateral. Com
um presidente que não confia nas urnas eletrônicas, mas até hoje não provou que
tenha ocorrido fraude na sua eleição, estende-se o tapete vermelho para que
terraplanistas comecem a alimentar conspirações em relação ao pleito de 2022. O
STJ ainda estava fora do ar quando o capitão Bolsonaro voltou a defender o voto
impresso. Logo ele, que tratava assuntos de Estado com o ministro Sergio Moro
na sua conta privada.
Trump
dividiu os republicanos
O
calor que Donald Trump tomou no Arizona mostra que ele dividiu até os
republicanos. No estado em que o Homem de Marlboro teve um rancho, os
democratas elegeram para o Senado o ex-astronauta Mark Kelly. Ele é o marido de
Gabrielle Giffords, a deputada que em 2011 foi baleada na cabeça por um maluco.
(A bala atravessou seu crânio, mas ela recuperou parcialmente a fala e anda com
bengala.)
Até
a noite de sábado, Joe Biden liderava a eleição do Arizona. Fatores
demográficos contribuíram para essa mudança no estado que produziu Barry
Goldwater, o campeão do conservadorismo republicano nos anos 60 do século
passado. Contudo, a grosseria megalômana de Donald Trump contribuiu para isso.
Ele ofendeu o senador John McCain (1936-2018), um político respeitado pela
biografia e pela decência. Filho de almirante e piloto de bombardeiro, McCain
foi abatido no Vietnã, ralou seis anos de prisão e torturas em Hanoi e nunca
recuperou completamente os movimentos dos braços. Candidato a presidente em
2008, perdeu para Barack Obama. Tendo contrariado Trump numa votação, tomou um
dos insultos típicos do presidente: “Ele não é um herói, foi capturado”. (Trump
nunca vestiu um uniforme.)
Quando
McCain morreu, Trump ignorou-o e foi jogar golfe. Na campanha, o troco veio de
Cindy, a viúva, herdeira da maior distribuidora da cerveja Anheuser-Busch no
país. Em setembro ela apoiou Biden: “Somos republicanos, mas, acima de tudo,
somos americanos.”
Trump
não precisava ter sido grosseiro com McCain, mas sua natureza falou mais alto.
Médici,
Geisel e Bolsonaro
Nenhum
presidente brasileiro teve uma relação tão próxima com seu colega americano
como o general Emílio Médici com Richard Nixon, a quem visitou em 1971. Quando
Nixon se atolou no caso Watergate e acabou perdendo o cargo, Médici, fora do
governo, não disse uma só palavra.
Nenhum
presidente brasileiro detestava seu colega americano como Ernesto Geisel
detestava Jimmy Carter. Enquanto esteve na Presidência, nunca disse uma palavra
contra ele. Fora dela, recusou-se a encontrá-lo e não atendeu o telefone quando
ele ligou para sua casa.
A
bomba Wassef
De
um advogado que conhece os processos relacionados com o Bolsonaro e suas
“rachadinhas”, ao saber que seu colega Frederick Wassef tentou operar o depoimento
da ex-assessora Luiza Souza Paes:
“Esse
pessoal está chamando urubu de ‘meu louro’.”
Luiza
Souza Paes mostrou ao Ministério Público os comprovantes de que, entre 2011 e
2017, o faz-tudo Fabrício Queiroz bicou cerca de R$ 160 mil do salário que
recebia no gabinete de Flávio Bolsonaro.
A
protelação tem nexo
Por
mais que se façam trapalhadas no varejo com o processo das “rachadinhas” dos
Bolsonaro, no atacado a manobra da defesa tem nexo e poderá dar certo.
Com
15 denunciados num processo de competência indefinida, é quase certo que não se
chegue a uma sentença antes da eleição de 2022.
Tio
Sam e Jeca Tatu
Relação
especial é assim:
Neste
ano, o Brasil importou 30 mil toneladas de soja dos Estados Unidos.
Pindorama
é o maior exportador de soja do mundo.
Neste
governo, os americanos foram dispensados de pedir visto de entrada no Brasil.
Não passa pela cabeça dos Estados Unidos oferecer reciprocidade.
O
presidente brasileiro torce pela reeleição de seu colega americano. Mesmo
quando despejava dinheiro nas eleições de Pindorama, nenhum presidente
americano fez declaração pública de apoio um candidato brasileiro.
Baker
saiu de perto
Aos
90 anos, o texano James Baker, articulador da vitória eleitoral de George Bush
na Corte Suprema contra Al Gore em 2000, afastou-se da teoria da eleição
roubada antes mesmo do patético discurso de Donald Trump na quinta-feira.
Baker
coordenou três campanhas presidenciais de republicanos, foi secretário do
Tesouro e de Estado.
Trump
e Napoleão
Quem viu o discurso de Trump deve se lembrar que em 1840, quando os restos mortais do Imperador saíram da ilha Santa Santa Helena para um mausoléu em Paris, num só hospício da cidade havia 14 pessoas garantindo que eram Napoleão Bonaparte.
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