Republicanos
degradados estão sacudidos, mas ainda fortes, e podem ser uma inspiração para a
política local; pesadelo não acabou.
Desumanidade,
sordidez, cafajestagem, mentira, ignorância, incompetência, vagabundagem,
racismo e morticínio não foram empecilhos para que Donald
Trump levasse o voto de quase 48% dos eleitores. Uma eventual vitória do
Nero Laranja daria ainda mais impulso à liga da injustiça. Mas qual terá sido o
tamanho da derrota da internacional autoritária?
A
pergunta tem interesse imediato para o Brasil. Trump é guia ideológico,
político e espiritual dessa gente no governo. Além do mais, uma derrota na
disputa pela Casa Branca diminui o valor de mercado eleitoral do extremismo
autoritário.
Apesar
do revés, o espírito da podridão continua bem vivo e pode ser ainda mais
atiçado pela guerrilha que o Partido Republicano está por ora disposto a mover
contra um governo de Joe Biden, uma espécie de Resistência virada do avesso.
Dada
a desimportância
brasileira e por ter mais o que fazer, um governo democrata não deve
tomar medida alguma destinada a afetar diretamente o Brasil. Sim, é possível
que um esforço renovado dos Estados Unidos na contenção do desastre climático
tenha impacto maior por aqui.
O
mundo civilizado, se ainda continuar a haver algum, todo ele tende a se ocupar
cada vez mais de cobrar compromissos ambientais que vão afetar comércio,
tecnologia, competitividade, trabalho ou alianças políticas. Como costuma
acontecer em quase qualquer mudança tecnológica, econômica ou civilizacional, é
grande o risco de ficarmos para trás, não importam os governos de turno no
mundo rico (desde que a barbárie não se dissemine pelo planeta, ressalte-se).
Nosso
isolamento diplomático aumentará, assunto mais esotérico e de efeito
defasado. Pode haver impactos impremeditados de políticas econômicas
americanas, como no caso de taxas de juros e de câmbio. De novidade, pode haver
o efeito da nova fase do extremismo e da guerra cultural, uma força viva dos
EUA, como as urnas acabaram de demonstrar e o comando republicano fará questão
de aproveitar.
Mesmo
as pesquisas que pintavam o quadro mais azul não indicavam derrota
desmoralizante dos republicanos. Uma diferença maior de votos e uma maioria
indiscutível dos democratas no Senado, porém, indicariam que governar de modo
abjeto, como Trump e seus lacaios o fazem, causa dano indubitável. Não foi bem
assim. Essa tem sido a conversa americana destes dias: a polarização e os
republicanos degradados, estão sacudidos, mas ainda fortes, mesmo fora da Casa
Branca. Podem ser uma inspiração para a política local. O pesadelo não acabou.
É
verdade que Bolsonaro, mais fraco, se tornou refém do centrão, reatou amizade
com corruptos maiores e estará tanto mais acorrentado a essa gente quanto maior
o risco de cadeia para filhos e amigos milicianos. Pode ficar mais fraco se a
economia ratear ou se um arrocho muito inepto deixar ainda mais gente em na
miséria. Em tese, Bolsonaro não está em situação de fazer muita gracinha
tétrica, como reavivar a campanha golpista ou outros autoritarismos. Mas ele
não tem limite.
A
derrota nazifascista em 1945 ajudou a derrubar a ditadura de Getúlio Vargas (ou
serviu de pretexto). A Guerra Fria colocou o Brasil no caminho da ditadura de
1964-1985. Comparar a queda de Trump a esses momentos decisivos parece exagero
ridículo. Mas: 1) não é bem de Trump que se trata, mas do risco de derrocada
democrática geral; 2) não terminou guerra algum: ela apenas começou.
Os democratas brasileiros, porém, ainda acham que vivemos em "um país normal", como dizem os colaboracionistas.
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