Meia noite. Fim
de um ano, início
de outro. Olho o céu:
nenhum indício.
Olho
o céu:
o abismo vence o
olhar. O mesmo
espantoso silêncio
da Via-Láctea feito
um ectoplasma
sobre a minha cabeça:
nada ali indica
que um ano novo começa.
E
não começa
nem no céu nem no chão
do planeta:
começa no coração.
Começa
como a esperança
de vida melhor
que entre os astros
não se escuta
nem se vê
nem pode haver:
que isso é coisa de homem
esse bicho
estelar
que sonha
(e luta)
(Ferreira
Gullar)
Então,
começou o Ano que chamamos de Novo Ano. É preciso que nos afastemos dos males
que aconteceram nos últimos três anos, quando fomos assombrados por duas coisas
ruins: a pandemia e o governo Bolsonaro, que embora tenha sido eleito
democraticamente por 57 milhões de brasileiros – sendo que 31 milhões se
abstiveram, 2 milhões votaram branco e 8 milhões votaram nulo -, foi escolhido
na verdade por cerca de 39% do eleitorado.
No
entanto, governa para poucos.
Foi muito difícil para a maioria dos brasileiros enfrentar a crueldade da pandemia, expressa principalmente em 619 mil mortos até o último dia do ano que passou. Também nas maluquices danosas do governo no desmonte das políticas públicas e, sobretudo, na condução das diretrizes que movem a economia no país.
Em
fevereiro de 2021 alertei em artigo: “Não podemos deixar que a sandice de um
governante impeça que o país não disponibilize a vacina para todos, porque se
trata de um bem que proporciona a preservação da vida, que é felicidade que não
deve ser desperdiçada.” Após um ano, o presidente insiste em negar vacina,
agora às crianças, mesmo com a aprovação, a palavra maior da ANVISA.
Não
podemos mais ter tolerância com esse tipo de sandice.
O
ano que começa deve ser o Ano da Esperança. Um amigo, José Arlindo Soares,
me mandou a seguinte mensagem: “Que tenhamos mais forças para somar as
esperanças de um ano mais promissor.” Imagino que somos muitos pensando em
redobrar o empenho para preparar o nosso futuro com data marcada para 2023.
A Esperança, sozinha,
não muda o rumo das coisas. Necessitamos que ela seja incorporada ao sentido
das nossas vidas, para que não nos afastemos do caminho que precisamos
pavimentar para que em 2023 possamos recomeçar nossas vidas sem ameaças, sem
desafios ao autoritarismo, sem ameaças de golpes e cuidando melhor do
fortalecimento democrático.
No
Chile, nosso quase vizinho, o seu povo vem dando o exemplo para o mundo e, como
diz o proverbio popular, “não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe.”
De modo que no cabe trabalhar para que o bem logo aconteça e permaneça por
várias gerações.
O
ano que começa inaugura um novo momento, um processo eleitoral que na verdade
já começou antes mesmo de se instalar o orçamento secreto e o fundo eleitoral.
Enfrentaremos
as eleições para escolher o presidente da República, senadores, deputados
federais, governadores dos estados e deputados estaduais. A maioria dos atuais
representantes e dos novos – reeleitos e a serem eleitos – ancorados nos atuais
com bastante dinheiro público, através de emendas parlamentares que podem
chamar de suas e outras secretas, decorrentes do novo orçamento, também
secreto, vergonha amparada pelo Supremo Tribunal Federal (STF),
considerando os apelos do Congresso Nacional e desconsiderando as necessidades
vivenciadas pela população.
Do
lado da população, inflação alta, carestia sobretudo nos alimentos e bens
primários, famílias com fome, sem emprego, sem moradia, com saúde precária,
vítimas do tráfico de drogas, violência e criminalidade. Educação pública com
escolas em condições precárias, sem professores e conteúdos curriculares
indefinidos, o que resulta na baixa aprendizagem dos alunos.
Para
termos um futuro melhor precisaremos aproveitar muito bem o nosso voto que
colocaremos nas urnas em outubro em 2022.
Imprescindível
é direcionar nossas esperanças para uma agenda econômica e social que beneficie
a população brasileira na sua totalidde.
“Não
entendo a existência humana e a necessária luta para fazê-la melhor, sem
esperança e sem sonho. A esperança é necessidade ontológica”. (Paulo Freire in
Pedagogia da Esperança, pagina 5/1997)
Para
isso temos o conhecimento. Basta acrescentar nossa vontade política.
*Mirtes Cordeiro é pedagoga.
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