segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Irapuã Santana: O transbordar

O Globo

‘Como será amanhã? Responda quem puder. O que irá me acontecer? O meu destino será como Deus quiser.’ 2021 ficou para trás, o Ano-Novo já deu as caras, e muitas perguntas rondam as cabeças de toda a população brasileira acerca do futuro que nos aguarda.

Entretanto, muito mais do que esperar que 2022 seja um ano melhor, precisamos refletir sobre nossa contribuição para chegar ao resultado que almejamos. Infelizmente, a polarização acentuada tomou conta de todas as áreas da nossa sociedade, dificultando demais o diálogo com o diferente e a criação de um caminho que possa ser construído para o surgimento de um panorama mais harmonioso.

Tratando-se de ano eleitoral, a hostilidade e as rixas tendem a ser potencializadas, indo para o caminho oposto ao da política, que é justamente a arte da composição.

O debate público ficou tóxico, com descartes completos e cancelamentos. Ao mesmo tempo, do outro lado, observamos políticos e partidos de diferentes ideologias aumentando o fundo eleitoral, destinando verbas do orçamento secreto, dilapidando o patrimônio público em troca de benefícios pessoais.

A sociedade, que deveria fiscalizar, cobrar e exigir, está completamente fragmentada e enfraquecida, assistindo a tudo atônita.

O filósofo Mario Sergio Cortella tem uma reflexão muito interessante, que pode ajudar a entender uma forma de escapar do poço sem fundo em que nos encontramos. Ele fala da diferença entre a esperança estática, que seria esperar que ocorra, e a esperança dinâmica, que é do verbo esperançar.

“Esperançar é ir atrás, é não desistir. Esperançar é ser capaz de buscar o que é viável para fazer o inédito. Esperançar significa não se conformar. Quando eu coloco água num copo, ela se conforma ao recipiente e está aprisionada nele. É preciso que você e eu sejamos capazes de transbordar. A esperança permite que você transborde, isto é, vá além da borda.”

Precisamos tomar as rédeas do nosso destino. Enquanto estivermos todos preocupados em apontar as nossas diferenças, não poderemos sair do círculo vicioso em que está inserido o nosso país. Nosso Brasil é jovem, sua democracia consegue ser mais nova que este articulista. Estamos lendo o manual de instruções das instituições, que também estão em fase de aprendizado. No entanto é necessário lidar com a responsabilidade individual e coletiva pelo período que estamos vivendo. Frise-se: não se trata de uma caça às bruxas para encontrar uma ou mais pessoas culpadas, mas sim de um convite a uma avaliação individual da nossa contribuição para chegar até aqui e para superar as dificuldades que experimentamos atual e historicamente.

Nos EUA, contra Trump, muitos americanos se juntaram para que ocorresse a mudança. Na Alemanha, após a saída de Merkel, sociais-democratas, verdes e liberais formalizam negociação para um governo de coalizão.

Não importa se você é conservador, liberal ou progressista, esquerda ou direita, a união da sociedade é imprescindível para que possamos transbordar.

 

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