Folha de S. Paulo
O tempo da estridência política ficará para
trás
O ano que passou pode ser seccionado em três fases: de alerta, de negação e de revolta. O alerta refere-se aos que souberam ler as entrelinhas do contexto da pandemia e entenderam que o assunto era grave demais para ser tratado em termos meramente políticos e eleitoreiros; a negação foi o modo como uma parcela da população reagiu ao alerta, desconfiando do que era noticiado e formulando teorias conspiratórias disseminadas a torto e a direito de modo irresponsável e inconsequente; já o momento da revolta precisa ser transmutado e a indignação deve virar ousadia: é preciso avançar na estrada do bom senso e tratar todos os assuntos com a seriedade que o momento exige.
Neste ano, políticos vão pleitear
reeleição. Cabe ao eleitor julgar se o ruim ou o péssimo precisa ser mantido
por algum motivo obscuro que a racionalidade objetivamente rejeita. O Brasil
precisa de novos rumos, novos líderes, novas políticas para novos tempos. Não
conseguiremos isso repetindo as fórmulas atrasadas do populismo demagógico
apregoado como única via à esquerda ou à direita. A via democrática é mais
complexa. Ela pressupõe revisão de conceitos, eliminação de preconceitos e
superação de ideologias.
Precisamos assumir que a ética divorciou-se
da política, que as instituições se deterioraram, que o sistema da corrupção se
disseminou de modo endêmico e que não se pode construir algo sólido sobre
alicerces corrompidos. Poucos estão dispostos a aceitar a necessária mudança.
Mas ela virá. Avançaremos.
A política não é um espaço reservado para as
velhas raposas oportunistas que se disfarçam em tempos de eleições. Política é
espaço para pessoas de bem e de brio. E essas pessoas estarão na disputa este
ano.
Toda grande transformação é silenciosa. O
tempo da estridência política ficará para trás. No ano passado sepultamos
milhares de vítimas da pandemia. Neste ano sepultaremos as ideologias que a
potencializaram e que instrumentalizaram todo esse sofrimento.
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