segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Catarina Rochamonte: 2022: a mudança virá

Folha de S. Paulo

O tempo da estridência política ficará para trás

O ano que passou pode ser seccionado em três fases: de alerta, de negação e de revolta. O alerta refere-se aos que souberam ler as entrelinhas do contexto da pandemia e entenderam que o assunto era grave demais para ser tratado em termos meramente políticos e eleitoreiros; a negação foi o modo como uma parcela da população reagiu ao alerta, desconfiando do que era noticiado e formulando teorias conspiratórias disseminadas a torto e a direito de modo irresponsável e inconsequente; já o momento da revolta precisa ser transmutado e a indignação deve virar ousadia: é preciso avançar na estrada do bom senso e tratar todos os assuntos com a seriedade que o momento exige.

Neste ano, políticos vão pleitear reeleição. Cabe ao eleitor julgar se o ruim ou o péssimo precisa ser mantido por algum motivo obscuro que a racionalidade objetivamente rejeita. O Brasil precisa de novos rumos, novos líderes, novas políticas para novos tempos. Não conseguiremos isso repetindo as fórmulas atrasadas do populismo demagógico apregoado como única via à esquerda ou à direita. A via democrática é mais complexa. Ela pressupõe revisão de conceitos, eliminação de preconceitos e superação de ideologias.

Precisamos assumir que a ética divorciou-se da política, que as instituições se deterioraram, que o sistema da corrupção se disseminou de modo endêmico e que não se pode construir algo sólido sobre alicerces corrompidos. Poucos estão dispostos a aceitar a necessária mudança. Mas ela virá. Avançaremos.

A política não é um espaço reservado para as velhas raposas oportunistas que se disfarçam em tempos de eleições. Política é espaço para pessoas de bem e de brio. E essas pessoas estarão na disputa este ano.

Toda grande transformação é silenciosa. O tempo da estridência política ficará para trás. No ano passado sepultamos milhares de vítimas da pandemia. Neste ano sepultaremos as ideologias que a potencializaram e que instrumentalizaram todo esse sofrimento.

 

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