Folha de S. Paulo
No front econômico, as sanções vieram muito
mais duras do que se antecipava
No cenário dos sonhos de Putin, suas forças já teriam tomado Kiev, a resistência dos ucranianos seria mínima e as sanções ocidentais não teriam ido muito além do embargo de alguns produtos. O governo do presidente ucraniano Volodimir Zelenski já teria caído, e o Kremlin estaria instalando um regime fantoche para substituí-lo. Se isso tivesse acontecido, o autocrata poderia gabar-se de ter feito a Rússia voltar a ser uma superpotência.
Sonhos nem sempre se materializam. Embora
haja poucas dúvidas de que, nas operações militares, os russos prevalecerão, os
ucranianos têm resistido bravamente. Já deu para sentir que, se Putin optar por
uma ocupação, ela não será nada fácil. E quanto mais brutais os soldados russos
tiverem de ser para conquistar seus objetivos, mais resoluta tende a ficar
a resistência
ucraniana, que pode em princípio prolongar-se por anos. Os americanos e os
próprios soviéticos já experimentaram isso no Afeganistão (e em outros países,
no caso dos primeiros). O termo empregado para descrever a situação era
"atoleiro".
No front econômico, as sanções vieram muito mais duras do que se antecipava.
Países ocidentais congelaram reservas russas e excluíram alguns de seus bancos
do sistema Swift. A desvalorização do rublo foi brutal e imediata. O BC russo
jogou os juros nas alturas. Não se imagina que Putin corra riscos internos, mas
os oligarcas que vivem em seu entorno perderam muito dinheiro e devem estar
chateados.
No que deve ser especialmente doloroso para Putin, a invasão transformou
Zelenski, um presidente incidental com pouca ou nenhuma habilidade política,
mas com muita percepção cenográfica, num herói cujos apelos uniram boa parte
dos ucranianos e da comunidade internacional de países. Até Viktor Orbán, o
líder húngaro que era um fiel apoiador do russo, condenou o ataque e chancelou
sanções.
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