EDITORIAIS
Fala de Bolsonaro sobre a Ucrânia
envergonha Brasil
O Globo
Depois de dias de silêncio, o presidente
Jair Bolsonaro aproveitou uma entrevista coletiva no último domingo para
proferir suas primeiras declarações a respeito da guerra na Ucrânia — e, como
esperado, foi extremamente infeliz em seu pronunciamento. Bolsonaro afirmou que
o Brasil “não vai tomar partido”, defendeu as razões alegadas por Vladimir
Putin para o ataque russo e disse que o Brasil adotaria uma posição neutra
diante do conflito.
Nenhuma palavra de solidariedade aos civis ucranianos atingidos pelas armas de Putin (só ontem ele falou em oferecer vistos humanitários a refugiados). Nenhuma crítica à agressão russa ao território soberano da Ucrânia. Em vez disso, Bolsonaro fez apenas uma menção irônica ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky: “O povo confiou em um comediante para traçar o destino da nação”. Zelensky tem sido aplaudido no mundo todo por ter preferido cerrar fileiras com seus soldados na defesa do país a exilar-se.
As declarações de Bolsonaro, que revelam
seu despreparo absoluto para lidar com política externa, são uma vergonha para
o Brasil. Mais que isso, entram em conflito com as posições que o Itamaraty tem
adotado nos foros internacionais (em parte, é certo, por ter sofrido pressão
depois da nota tímida emitida no primeiro dia de guerra).
É verdade que o Brasil não subscreveu nem o
comunicado conjunto do Mercosul nem o da Organização dos Estados Americanos
(OEA) condenando a Rússia. Mas no foro mais relevante, o Conselho de Segurança
das Nações Unidas, votou, ao lado de 11 países, a favor da resolução
condenatória (vetada pelo representante russo) e a favor da convocação da
sessão extraordinária da Assembleia Geral dedicada à crise ucraniana, onde
ontem o embaixador brasileiro na ONU, Ronaldo Costa Filho, voltou a expressar
um ponto de vista sensato.
Em todas as sessões, ele manifestou a
posição mais razoável levando em conta o interesse nacional: condenou a
violação da soberania e a violência, exigiu cuidados com os civis atingidos e
refugiados deslocados, além de uma solução diplomática para o conflito. “A
situação atual de forma nenhuma justifica o uso da força contra a integridade
territorial e soberania de nenhum Estado integrante da ONU”, disse ontem. E
repetiu o apelo que fizera no domingo pela “interrupção imediata das
hostilidades”, pelo “respeito pleno à lei humanitária” e pela tentativa de
restabelecer a confiança e o “diálogo entre as partes envolvidas”.
Ao mesmo tempo, recomendou cautela em
relação ao envio de armas, ao uso de ataques digitais ou à aplicação de
sanções, que podem contribuir para acirrar os ânimos em vez de arrefecê-los.
Como importador de trigo e fertilizantes, o Brasil não tem interesse em alijar
os fornecedores russos do mercado, muito menos num conflito prolongado entre a
Rússia e o Ocidente.
Isso não significa, obviamente, manter a
“neutralidade” preconizada por Bolsonaro em seu pronunciamento, muito menos
endossar a agenda expansionista e antidemocrática de Putin, baseada numa
leitura mentirosa da História e da realidade. A invasão ao território de um
país soberano, o ataque a civis indefesos e a promoção dessa agenda têm de ser
condenados com firmeza. Zelensky pode ter sido comediante no passado, mas sua
atitude diante da tragédia tem demonstrado que está muito longe de ser uma
piada.
Apesar dos desfiles sem autorização, saldo
do carnaval suspenso é positivo
O Globo
A decisão das prefeituras de suspender o
carnaval por decreto devido à pandemia de Covid-19 não foi totalmente
respeitada. Apesar de os desfiles terem sido oficialmente cancelados ou adiados
nas maiores cidades do país, o recesso foi apenas parcial. Mas, mesmo levando
em conta os blocos clandestinos e as aglomerações em eventos privados, pode-se
considerar o saldo positivo.
Em geral, as ruas de cidades que nesta
época fervem com a folia estavam irreconhecivelmente silenciosas. Nada que
lembrasse um desfile do Cordão da Bola Preta, no Rio, ou do Galo da Madrugada,
no Recife. Felizmente, a maior parte da população apoiou a proibição,
entendendo a necessidade de colocar a saúde dos cidadãos acima de outros
interesses. É bom sinal também que o cancelamento das festas não tenha
impactado tanto o turismo, um dos setores mais afetados na pandemia. Segundo os
empresários, mesmo sem os desfiles, a ocupação da rede hoteleira no Rio ficou
em torno de 80%.
É verdade que, no Rio, não foram poucos os
blocos clandestinos que desafiaram a fiscalização, especialmente na Zona
Portuária, na Lapa e em redutos boêmios da Zona Sul. Em cidades como São Paulo,
Salvador ou o próprio Rio, a folia migrou para espaços privados, com cobrança
de ingressos e as inevitáveis aglomerações. Sambistas tradicionais criticaram o
que chamaram de “privatização” do carnaval.
Embora sejam decisões custosas, a
prefeitura de cidades como Rio, Salvador, Recife, Olinda e São Paulo fez bem em
suspender as festas (Rio e São Paulo transferiram os desfiles das escolas de
samba para o feriado de 21 de abril e vetaram os blocos). Não havia mesmo outra
decisão a tomar diante do crescimento avassalador da variante Ômicron e da
pressão sobre o sistema de saúde. Cortejos que reúnem milhares e até milhões
são ambiente propício para a propagação do vírus.
Compreende-se a ansiedade dos foliões,
impedidos de desfilar pelo segundo ano consecutivo devido à pandemia. Mas
faltou senso de responsabilidade aos blocos clandestinos, que ignoraram o
momento crítico por que ainda passa o país. Mesmo que as infecções e mortes
tenham começado a declinar, ainda morrem quase 700 pessoas diariamente. Nos
próximos dias, o Brasil deverá bater a marca de 650 mil mortos pela Covid-19.
Espera-se que, terminado esse “não
carnaval”, as cidades monitorem as possíveis consequências das aglomerações em
locais públicos ou privados, ampliando a testagem da população, isolando os
infectados e rastreando seus contatos para impedir novas ondas. Com o declínio
da Ômicron e o avanço da vacinação, o país poderá enfim ensaiar uma volta
responsável à normalidade. Será necessário aprender a conviver ainda por um bom
tempo com o vírus. E não há convivência que não passe pela vacinação completa
de toda a população. Assim, quem sabe o Brasil possa ter um carnaval
inesquecível em 2023.
Receita gasta
Folha de S. Paulo
Cortes de impostos sem equilíbrio fiscal
raramente se sustentam por muito tempo
Não há dúvida de que a carga tributária
brasileira é elevada para um país de renda média, além de incidir em excesso
sobre a produção e o consumo. Entretanto soluções aparentemente simples para o
problema —como a redução
geral do IPI recém-promovida pelo governo Jair Bolsonaro (PL)— podem
ser, mais que ilusórias, temerárias.
O corte de 25% nas alíquotas do Imposto
sobre Produtos Industrializados, que só deixou de fora os que contêm tabaco,
foi apresentado com a costumeira megalomania pelo ministro Paulo Guedes, da
Economia, como o "início da reindustrialização" nacional.
Pode-se prever que a medida se tornará
bandeira na campanha do presidente pela reeleição; agradará a uma parcela
considerável do empresariado e será propagandeada como suposta evidência do
avanço de uma agenda liberalizante.
A experiência ensina, no entanto, que
bondades tributárias desacompanhadas de redução correspondente nas despesas do
governo raramente se sustentam por muito tempo —e o desfecho desastroso da
gestão Dilma Rousseff (PT) é apenas o exemplo mais recente.
A nova desoneração decerto se ampara no
salto da arrecadação tributária observado a partir de 2021, que proporcionou
o primeiro
superávit primário (sem considerar os gastos com juros) do setor público em
oito anos.
A maior parte dos especialistas, contudo,
avalia que a melhora da receita se deveu principalmente aos impactos da
expansão da economia e da escalada da inflação, que deverão refluir. Para este
2022 de eleições e aumento de gastos, projeta-se retorno ao déficit.
É nesse contexto que o corte do IPI
produzirá uma renúncia fiscal estimada em quase R$ 20 bilhões, repartida entre
União, estados e municípios —ao fim e ao cabo, com aumento da dívida pública.
Como de hábito, os defensores da medida
argumentam que ela produzirá um estímulo à atividade econômica capaz de
compensar seus custos. Trata-se de uma tese antiga e tentadora.
Falta considerar, todavia, que o
desequilíbrio orçamentário do governo pressiona a inflação, eleva os juros e
mina a confiança dos empresários. Tudo isso está em curso, e as projeções para
o crescimento do PIB continuam sombrias, mesmo com a indicação de mais
estímulos, como a liberação de recursos do Fundo de Garantia.
É estreita a margem para redução imediata
de uma carga tributária que consome cerca de um terço da renda nacional.
Cumpre, sim, tornar a cobrança de impostos mais simples e justa, com menor
incidência sobre o consumo; essa é tarefa para uma reforma ampla, que
infelizmente o atual governo não tem capacidade de liderar.
Arma sem paradeiro
Folha de S. Paulo
Política de Bolsonaro combina estímulo à
aquisição com negligência no controle
Em três anos de governo, Jair Bolsonaro
(PL) expandiu a circulação de armas no país, com decretos de flexibilização que
enfraqueceram o Estatuto do Desarmamento.
Dados do Anuário de Segurança Pública
apontam que em dezembro de 2020 havia 2,1 milhões de armamentos legais nas mãos
de particulares, ou quase 1 para cada 100 brasileiros —aí incluídos caçadores,
atiradores e colecionadores, além de artigos em nome de empresas e para uso
pessoal de policiais, bombeiros e militares.
Apenas no sistema da Polícia Federal, o
número de registros dobrou em relação ao verificado em 2017, atingindo 1,2
milhão.
Em tal cenário, é necessário ao menos
acompanhar o destino dos artefatos, o que pode levar a informações
inquietantes. Após analisar 23.709 ocorrências lançadas entre 2011 e 2020, o
Instituto Sou da Paz constatou que nove armas foram furtadas ou roubadas por
dia no estado de São Paulo.
Produtos legais tornam-se com facilidade
ilegais nas mãos de criminosos, multiplicando a capacidade de impulsionar a
violência.
Em termos de controle, o governo Bolsonaro
tem feito o oposto do que especialistas recomendam: afrouxa-se no país o
rastreamento de armas e munições.
Documentos
obtidos pela Folha evidenciam
que o Exército e o Ministério da Justiça mantêm sem avanço a integração entre
os sistemas dos dois órgãos.
Em abril de 2020, Bolsonaro revogou três
portarias do Comando Logístico do Exército que estabeleceriam regras para
monitoramento e identificação de armamentos. Desde então, papéis entregues ao
Tribunal de Contas da União revelam que não houve até janeiro deste ano nenhum
novo andamento.
O sistema do Exército (Sisnar), se
operante, poderia compartilhar dados relativos ao registro de caçadores,
atiradores, colecionadores, militares e policiais com o sistema ligado ao Ministério
da Justiça (Sinesp), acessado por policiais.
A Força tampouco deu seguimento à
integração entre os dados do cadastro atualizado de armas registradas, o Sigma,
e o Sinesp.
O que se vê, na prática, é uma política de
permissividade armamentista, na qual o estímulo à aquisição privada —por meio
de decretos de legalidade mais que duvidosa— se reforça com a negligência da
fiscalização pública.
Tal estratégia não se baseia em metas e
resultados de segurança pública, apenas em ideologia.
Brasil longe do crescimento estrutural
O Estado de S. Paulo.
Baixo investimento limita o potencial de
crescimento do País e o torna menos atraente para o investidor estrangeiro
Baixo investimento limita o potencial de
crescimento e torna o País menos atraente.
Com desempenho fraco e baixo potencial de
crescimento, a economia brasileira só terá algum atrativo especial para o
investidor estrangeiro, em 2022, se a eleição prenunciar a redescoberta das
políticas de modernização e crescimento. As projeções mais otimistas seguem
apontando uma economia travada, com baixo consumo das famílias empobrecidas,
pouco investimento produtivo e indústria em declínio. O Produto Interno Bruto
(PIB) crescerá 0,6% neste ano, segundo o Boletim Macro de fevereiro da Fundação
Getulio Vargas (FGV). Essa taxa é o dobro daquela estimada no mercado
financeiro, segundo a última pesquisa Focus publicada pelo Banco Central (BC).
Têm surgido poucas projeções mais altas, na faixa de 1% a 2%, mas também esses
números são muito inferiores àqueles observados internacionalmente.
A atração de investimentos depende
principalmente do crescimento estrutural, observou em recente palestra o
presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ele se referiu, com essas
palavras, àquele ritmo de expansão sustentável, durante vários anos, pela
capacidade produtiva de um país. No Brasil, as projeções de crescimento
estrutural têm caído e agora se situam em torno de 1,5% ao ano, acrescentou
Campos Neto.
Números parecidos com esse são encontrados
nas estimativas de expansão econômica de médio e de longo prazos, quando se
trata do Brasil. Esse padrão, com taxas máximas de 2%, é visível nas
publicações do Fundo Monetário Internacional (FMI) e nas edições semanais da
pesquisa Focus. Há muitos anos o crescimento estrutural da economia brasileira
é considerado inferior àqueles normalmente estimados para as potências
classificadas como emergentes.
Crescimento estrutural está vinculado ao
potencial produtivo. Esse potencial é determinado por vários tipos de
investimentos. Alguns são destinados a ampliar o capital físico – máquinas,
equipamentos, construções privadas e obras de infraestrutura, como rodovias,
ferrovias, portos, sistemas energéticos e de saneamento. Outros são realizados
para expandir e valorizar outro tipo de capital, geralmente mais escasso nas
economias em desenvolvimento: ciência, tecnologia, práticas inovadoras e,
naturalmente, mão de obra educada, qualificada e capacitada para absorver
treinamento e novas competências. No Brasil, todos esses tipos de investimento
têm sido insuficientes e, além disso, têm ficado abaixo das possibilidades do
País.
No caso do investimento em capital físico,
um dos objetivos da política econômica, nas últimas duas décadas, foi alcançar
um nível equivalente a 24% do PIB, superado, às vezes com folga, em muitas
economias emergentes e em desenvolvimento. Mas a média de 18%, observada no
Brasil nesse período, foi raramente ultrapassada. Em 2021 a taxa deve ter
ficado pouco acima de 19%, segundo a edição de fevereiro do Monitor do PIB-FGV.
O valor investido foi 16,7% maior que o de 2020, quando a onda inicial de
covid-19 prejudicou severamente a atividade econômica e afetou, naturalmente, a
capacidade de investir tanto das empresas quanto do setor público.
Mas a recuperação observada em 2021 perdeu
impulso. Pelas novas estimativas da FGV, a modesta expansão de 0,6% prevista
para o PIB será a resultante de números medíocres em vários tipos de
atividades. A agropecuária crescerá apenas 2,8%, em parte por causa das perdas
causadas por problemas climáticos. A produção de serviços avançará 1,3% e a da
indústria geral encolherá 1,1%, segundo as projeções.
No setor industrial, o pior desempenho será
o do ramo de transformação, com resultado negativo de 3,2%. Esse ramo inclui
tanto a produção de bens de consumo, como roupas, automóveis, sapatos,
televisores, liquidificadores, telefones celulares, medicamentos, produtos de
beleza e material escolar, quanto a de bens de produção, como tratores,
escavadeiras, tornos mecânicos e geradores elétricos. O futuro também estará
comprometido, com o investimento em capital físico encolhendo 3,9% e
prejudicando, nos anos seguintes, o tão importante crescimento estrutural.
Democracias doentes
O Estado de S. Paulo.
As autocracias exercitaram seus músculos e
muitas democracias normalizaram medidas de exceção. O Brasil de Bolsonaro
contribui para a recessão democrática
Segundo o Índice da Democracia da Economist
Intelligence Unit, a pandemia impactou negativamente todas as regiões do mundo.
Em 15 anos de edição, 2021 registrou a pior pontuação global e o maior declínio
de um ano para outro.
O Índice é baseado em cinco categorias –
processo eleitoral e pluralismo, funcionamento do governo, participação
política, cultura política e liberdades civis – que classificam quatro tipos de
regime – “democracia plena”, “democracia falha”, “regime híbrido” e “regime
autoritário”.
A saúde da democracia já estava em declínio
havia anos. A crise agravou tendências como “uma abordagem cada vez mais
tecnocrática na gestão social” e o recurso à coerção, resultando em “uma
retração sem precedentes das liberdades civis tanto entre as democracias quanto
entre os regimes autoritários”.
Em 2020, restrições à circulação, controle
da mídia e vigilância já haviam provocado um declínio severo. Mas as altas
taxas de mortalidade e a ausência de vacinas ofereciam um caso convincente para
restrições excepcionais e a maioria das pessoas se dispôs a sacrificar
liberdades individuais em prol de um bem maior.
Previstas para durar limitadamente, essas
restrições já estabeleciam precedentes temerários. Em 2022 a pandemia tende se
dissolver em um quadro endêmico, mas o risco de que esses poderes emergenciais
sejam normalizados é real. Em 2021, a distribuição das vacinas, melhores
tratamentos e o declínio de hospitalizações e mortes coincidiram com a
introdução de “uma panóplia de medidas coercitivas e intrusivas”.
Restrições excepcionalíssimas aos não
vacinados eram defensáveis. Mas em muitos lugares esses grupos minoritários
foram demonizados, até por seus governantes. O presidente francês, Emmanuel
Macron, disse que tornaria a vida dos não vacinados a mais dura possível e
muitos políticos propuseram excluí-los das redes de seguridade.
A pandemia foi o laboratório perfeito para
as tiranias testarem seu aparato de repressão e propaganda. A referência a um
único país no título do Índice é incomum, mas emblemática: O Desafio da China
aumentou com o vírus – cuja origem, de um animal ou um laboratório, por sinal,
o mundo não consegue investigar. No terceiro ano da pandemia, há milhões de
chineses confinados em lockdowns pela política epidemiologicamente insana da
“covid-0”.
Em três décadas a economia da China cresceu
o triplo da dos EUA. Hoje ela é uma superpotência econômica a caminho do maior
PIB global. A pandemia energizou a confiança do Partido Comunista, que acusa os
ocidentais de a administrarem mal, sacrificando centenas de milhares de vidas,
e a propagandeia como prova de superioridade sobre as democracias liberais
caóticas e decadentes.
A América Latina foi a região que registrou
o maior declínio de um ano para o outro na história do Índice. Cinco países
caíram na classificação, entre eles o Chile, de democracia “plena” para
“falha”, e Equador, México e Paraguai, de “falhos” para “híbridos”. A queda foi
puxada pelo indicador “cultura política”. A insatisfação pública com a gestão
da crise amplificou o ceticismo contra a democracia, assim como a tolerância
com o autoritarismo.
O presidente Jair Bolsonaro é citado como
exemplo dos populistas iliberais que promovem a deterioração democrática, entre
outras coisas por ter exigido a renúncia de dois membros da Suprema Corte,
questionado a integridade do processo eleitoral e ameaçado descumprir o
resultado das urnas. O recrudescimento desses ataques em 2022 está contratado.
O vírus foi tóxico para a democracia global e tônico para a autocracia. Mas ele atingiu uma democracia já em degradação e uma autocracia em ascensão. A autocracia global, liderada pela China, não retrocederá num futuro próximo. A grande dúvida é se as democracias conseguirão sanar suas comorbidades e eliminar os patógenos que as consomem. O Brasil padece da mesmíssima enfermidade e paira sobre ele a mesma incerteza. Mas uma coisa é certa: o seu presidente, longe de ser parte da cura, é o agente mais virulento da doença.
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