Folha de S. Paulo
Se essa indústria fosse séria, condenaria a
agenda que beneficia criminosos e pagaria o justo a atingidos pelos desastres
A mais recente novidade na fábrica de
mentiras do dicionário bolsonarista é a tal da mineração artesanal,
objeto de um decreto presidencial para formulação de políticas públicas para o
setor. O decreto constrói uma realidade inexistente, como se a mineração no
Brasil ainda estivesse no tempo da bateia.
O decreto é mais um exemplo da persistência do governo em legalizar práticas criminosas, como o garimpo em terras indígenas. Sobre esse assunto, é de grande relevância a investigação feita pelo Instituto Escolhas, "Raio X do Ouro", a respeito da extração e comercialização do ouro no Brasil (2015-2020). O relatório conclui que quase metade (229 toneladas) da produção nacional do período tem indícios de origem ilegal.
A pesquisa mostra os mecanismos de
"lavagem" da procedência do metal para introduzi-lo nos fluxos
nacionais e internacionais de comércio, com a participação de instituições
financeiras, para que o ouro chegue ao consumidor com aparência lícita. Uma
aliança comprada numa joalheria de São Paulo, por exemplo, pode estar
contaminada por uma cadeia de ilegalidades cometidas na Amazônia.
A mineração (mesmo a ilegal) requer alto
investimento, opera em escala industrial e movimenta dinheiro grosso. Tão
grosso que atraiu a atenção de militares de pijama. A Agência Pública revelou
que o general Cláudio Barroso Magno Filho atua como lobista de um banco
canadense e suas mineradoras na Amazônia. A Folha mostrou que Augusto Heleno autorizou pesquisa mineral
em área intocada da região. Recuou posteriormente.
A indústria da mineração gasta muito
dinheiro com greenwashing, vendendo a falseta de uma atividade sustentável. Se
isso fosse sério, a primeira coisa a fazer seria condenar a agenda que
beneficia criminosos. Outro passo importante seria pagar as justas indenizações
aos atingidos pelos desastres. Que o digam as vítimas de Mariana e Brumadinho.
Sem isso, o que sobra é o vale tudo e a lei do mais forte.
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