O Globo
As eleições gerais estão se aproximando, e
muito debate precisa ser feito no país. Entre tantas divergências ideológicas
que temos encontrado, uma pauta importantíssima tem sido deixada de lado, a
educação — por não gerar engajamento e exigir trabalho sério, duro e intenso,
bem como por ser um fator de aproximação entre os anseios de toda a população
brasileira, de qualquer inclinação política.
Todo mundo deseja ter acesso à melhor
escola possível. Afinal, o estudo é o principal ponto de combate às mazelas de
todas as sociedades planeta afora.
A ideia de que trabalhadores mais
qualificados produzem mais e melhor vem, pelo menos, desde Adam Smith, no
século XVIII. Além de gerar mais riqueza, diz a economista Ana Carla Abrão, “um
país mais educado gasta menos com saúde pública, tem níveis de segurança mais
elevados, já que apresenta criminalidade mais baixa”.
Os dados do Brasil mostram uma realidade assustadora. Segundo o economista Leonardo Monastério, do Ipea, nossa escolaridade média é de 7,8 anos. Esse patamar é menor que o do Chile em 1990, da Coreia do Sul em 1985, do Japão em 1975, da Austrália em 1950 e dos Estados Unidos em 1935.
Para piorar, além do pouco tempo de estudo,
a qualidade do ensino é muito baixa. Pela última avaliação do Programa
Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), o Brasil ficou em 57º lugar no
quesito leitura, entre 79 participantes, na 70ª posição em matemática e na 64ª
colocação em ciências.
Tais fatores geram um prejuízo gigante para
todos. Em estudo elaborado pelo banco Credit Suisse, verifica-se que a
produtividade brasileira cresceu 3,5% ao ano entre 1950 e 1980, mas está
estagnada há mais de 35 anos.
O quadro nada positivo se agravou
substancialmente na pandemia. Foi publicada recentemente uma nota técnica da
ONG Todos Pela Educação atestando a realidade desanimadora: entre 2019 e 2021,
houve um aumento de 66,3% no número de crianças de 6 e 7 anos que não sabiam
ler e escrever, um total que passou de 1,4 milhão em 2019 para 2,4 milhões em
2021. Quando se passa a observar a renda, é possível ouvir um grande grito de
socorro vindo da população carente. Enquanto, entre as crianças mais pobres, o
percentual das que não sabiam ler e escrever saltou de 33,6% para 51%, entre as
mais ricas, saiu de 11,4% para 16,6%.
Ivanildo Terceiro, diretor de comunicação
do Students For Liberty Brasil, lembra que “o Estado brasileiro já arrecadou,
apenas neste ano de 2022, R$ 1 trilhão e, ainda assim, conscientemente
decidimos jogar fora o futuro do país. São milhões de crianças que não
completaram nem 10 anos — e já estão fadadas à pobreza e aos piores trabalhos
possíveis”.
Precisamos nos perguntar que país desejamos
para o futuro. Até quando ressaltaremos as diferenças de pensamento e
deixaremos de focar no que, de fato, importa?
Buscar pontos de convergência é essencial
para encerrar esse ciclo nefasto de descarte de chances, a fim de que possamos
ter um amanhã melhor. Por que não tentar começar com pautas mais abrangentes,
como a educação?
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