O Estado de S. Paulo.
Para conectar com brasileiros de outras matrizes, urge entender sua configuração mental
Jonathan Haidt cresceu em família judia nos
subúrbios de Nova York. Para a geração de seus avós, Franklin Roosevelt, do
Partido Democrata, foi o herói que derrotou Hitler.
Haidt ainda frequentou a Universidade de
Yale, onde ser de esquerda, esnobando republicanos, era moralmente correto,
como admite no livro A mente moralista – Por que pessoas boas são segregadas
por política e religião.
“Nós apoiávamos políticas esquerdistas porque queríamos ajudar as pessoas, mas eles apoiavam políticas direitistas por puro interesse próprio (abaixe meus impostos!) ou racismo velado (pare de financiar programas sociais para minorias!). Nunca consideramos a possibilidade de existir mundos morais alternativos nos quais reduzir os danos (ajudando as vítimas) e aumentar a justiça (buscando a igualdade de grupo) não fossem os principais objetivos.”
Só na Índia, onde estudou psicologia
cultural, Haidt fez de tudo para se “encaixar em outra matriz”. Quando voltou,
os direitistas não lhe soaram mais “tão loucos”. Ele passou a reconhecer em
cada lado “visões profundamente conflitantes, mas igualmente sinceras, de uma
boa sociedade”, livrandose da “conclusão que a raiva moralista exige: nós
estamos certos, eles estão errados. Pude explorar novas matrizes morais, cada
uma apoiada por suas próprias tradições intelectuais. Parecia um tipo de
despertar.”
Seu segundo “despertar” foi o livro
Conservatism, do historiador Jerry Muller. “Como esquerdista ao longo de toda a
vida, presumi que conservadorismo = ortodoxia = religião = fé = rejeição à
ciência. Portanto, como ateu e cientista, eu era obrigado a ser de esquerda.”
Mas Muller quebrou seus preconceitos sobre o tema, assim como Edmund Burke,
Friedrich Hayek e Thomas Sowell. “Comecei a ver que eles haviam alcançado uma
visão crucial da sociologia da moralidade que eu nunca vira”, confessa Haidt,
elogiando os “intelectuais conservadores, não o Partido Republicano”.
Para o Brasil de hoje, polarizado entre
populismos de esquerda e direita que emulam cartilhas partidárias americanas e
desvirtuam tradições, o desprendimento do professor doutor é tão exemplar
quanto sua teoria dos alicerces morais (Cuidado/dano, Liberdade/opressão,
Justiça/trapaça, Lealdade/traição, Autoridade/subversão, Pureza/degradação),
que mostra como esquerdistas e direitistas dão diferentes pesos a cada um.
Para estabelecer conexões com brasileiros de outras matrizes, abduzidos ou não pela propaganda de Lula e Bolsonaro, urge entender suas configurações mentais.
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