Folha de S. Paulo
Atos poderiam levar a uma mudança de
regime, dando razão aos institucionalistas
Protestos na China se generalizam. Já faz algum tempo que a maioria dos filósofos da
ciência não utiliza a capacidade de fazer predições como critério definitivo a
separar a ciência de outros tipos de discurso. Ainda assim, cientistas adoram
elaborar um prognóstico não óbvio e acertá-lo. Fazê-lo, mesmo que não tenha
impacto decisivo em termos epistemológicos, conserva grande força retórica.
Uma previsão até aqui não realizada sobre a China que avexa economistas liberais, particularmente os da escola institucionalista, é a de que ditaduras são, no longo prazo, incompatíveis com a prosperidade econômica. Para eles, o crescimento sustentável só é possível quando as instituições políticas de um país são inclusivas e seus cidadãos gozam de liberdade para decidir o que farão de suas vidas e recursos. Isso ocorre porque a prosperidade duradoura depende de estabilidade social e de um fluxo constante de inovações, que resulte em ganhos de produtividade.
E a China desafia essa previsão. Ela não
apenas vem há décadas apresentando taxas invejáveis de crescimento como também
vem aumentando consideravelmente sua produção científica. Os institucionalistas
tentam se explicar afirmando que os 50 anos desde que a China abraçou a
economia de mercado ainda não configuram o longo prazo da previsão e que a hora
da verdade pode ser adiada enquanto o regime consegue entregar bem-estar à
população, anestesiando seus anseios por liberdade político-econômica.
A dúvida agora é se a generalização dos protestos é só um contratempo que Xi
Jinping e seus aliados conseguirão superar ou se marcam algo mais estrutural,
que poderia levar a uma mudança de regime, dando razão aos institucionalistas.
Já vi muitas revoluções que deram certo,
como as da Europa do Leste, nos anos 1980 e 1990, e muitas que deram errado,
como as da Primavera Árabe, 12 anos atrás, de modo que me abstenho de fazer
previsões.
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