sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Bruno Boghossian - O novo laboratório da direita

Folha de S. Paulo

Governador eleito de SP pode trilhar um caminho próprio, mas ainda depende da força do ex-chefe

Tarcísio de Freitas jura que nunca foi um "bolsonarista raiz". O governador eleito de São Paulo disse em entrevista à CNN Brasil que concorda com as "ideias econômicas" do governo de Jair Bolsonaro e defende bandeiras conservadoras, mas afirmou que não pretende "entrar em guerra ideológica e cultural".

A declaração passa longe de uma ruptura. O ex-ministro não nega ser um bolsonarista, mas escolhe um complemento para emplacar a ideia de que há uma divisão entre um grupo raiz e uma ala mais pragmática.

Com o malabarismo, Tarcísio busca um certo conforto. Ele tenta se diferenciar de personagens barulhentos, mas admite conviver com radicais e se beneficiar de suas ações —como fez durante a campanha e em seus 1.186 dias como ministro.

O governador eleito parece interessado em renovar essa lógica no Palácio dos Bandeirantes. Tarcísio decidiu dar verniz técnico às áreas ligadas à infraestrutura, entregou a economia a seguidores da cartilha de Paulo Guedes e concedeu espaço estratégico ao "bolsonarismo raiz".

A partilha atende aos interesses políticos do ex-ministro. Tarcísio levou para o próprio colo a operação de obras públicas, a área de transportes e serviços como a Sabesp. O plano é usar o governo para obter um rótulo de gestor.

Na economia, ele reproduz a linha liberal de Guedes para preservar o apoio de investidores e manter a coesão de um eleitorado de direita que, por 28 anos, viu no PSDB paulista a liderança dessa doutrina.

Já o "bolsonarismo raiz" terá espaço privilegiado na Segurança Pública. A pasta ficará com o deputado Guilherme Derrite, que foi apadrinhado por Eduardo Bolsonaro e já disse que bons policiais devem ter ao menos três mortes na carreira.

Tarcísio não se separou desse grupo. Ele montou o laboratório de um novo arranjo de direita —que busca uma marca de centro, mas mantém em cena o "bolsonarismo raiz". O governador eleito pode trilhar um caminho político próprio, mas ainda depende da força do ex-chefe.

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