Folha de S. Paulo
Governador eleito de SP pode trilhar um
caminho próprio, mas ainda depende da força do ex-chefe
Tarcísio
de Freitas jura que nunca foi um "bolsonarista raiz". O
governador eleito de São Paulo disse em
entrevista à CNN Brasil que concorda com as "ideias econômicas"
do governo de Jair
Bolsonaro e defende bandeiras conservadoras, mas afirmou que não
pretende "entrar em guerra ideológica e cultural".
A declaração passa longe de uma ruptura. O ex-ministro não nega ser um bolsonarista, mas escolhe um complemento para emplacar a ideia de que há uma divisão entre um grupo raiz e uma ala mais pragmática.
Com o malabarismo, Tarcísio busca um certo
conforto. Ele tenta se diferenciar de personagens barulhentos, mas admite
conviver com radicais e se beneficiar de suas ações —como fez durante a
campanha e em seus 1.186 dias como ministro.
O governador eleito parece interessado em
renovar essa lógica no Palácio dos Bandeirantes. Tarcísio decidiu dar verniz
técnico às áreas ligadas à infraestrutura, entregou a economia a seguidores
da cartilha de Paulo Guedes e concedeu espaço estratégico ao
"bolsonarismo raiz".
A partilha atende aos interesses políticos
do ex-ministro. Tarcísio levou para o próprio colo a operação de obras
públicas, a área de transportes e serviços como a Sabesp. O plano é usar o
governo para obter um rótulo de gestor.
Na economia, ele reproduz a linha liberal
de Guedes para preservar o apoio de investidores e manter a coesão de um
eleitorado de direita que, por 28 anos, viu no PSDB paulista a liderança dessa
doutrina.
Já o "bolsonarismo raiz"
terá espaço
privilegiado na Segurança Pública. A pasta ficará com o deputado Guilherme
Derrite, que foi apadrinhado por Eduardo Bolsonaro e já disse que bons
policiais devem ter ao menos três mortes na carreira.
Tarcísio não se separou desse grupo. Ele montou o laboratório de um novo arranjo de direita —que busca uma marca de centro, mas mantém em cena o "bolsonarismo raiz". O governador eleito pode trilhar um caminho político próprio, mas ainda depende da força do ex-chefe.
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