sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Vera Magalhães - Prêmio aos aliados dos tempos difíceis

O Globo

Haddad integra o núcleo duro da resistência no momento mais crítico da vida e da carreira política de Lula

Os primeiros nomes a ser anunciados por Lula para o ministério mostram que ele adotou um critério de precedência na composição da equipe: quem chegou antes se senta na janela. A exceção, pautada pela cautela a que já me referi em artigo anterior, é José Múcio na Defesa, decisão a que o presidente chegou diante da necessidade de garantir um convívio menos sujeito a solavancos com os militares depois da passagem de Jair Bolsonaro pelo Planalto.

Fernando Haddad, com Gleisi Hoffmann e outros petistas, integra o núcleo duro da resistência no momento mais crítico da vida e da carreira política de Lula. O ex-prefeito de São Paulo teve uma atitude de desprendimento, ao aceitar substituir o ex-presidente como candidato em 2018, enquanto ele estava preso e inabilitado para concorrer, que poucos políticos brasileiros teriam, dada a tendência atávica à autopreservação e o caráter tênue da lealdade nesse meio.

A esse episódio se seguiram quatro anos em que Haddad foi um dos mais vocais expoentes do PT contra o bolsonarismo, por ele classificado desde sempre como um movimento de extrema direita de corte autocrático. Ele coroou o caminho sendo o petista mais bem-sucedido eleitoralmente no Estado de São Paulo, o que também ajudou Lula a obter a vitória apertada sobre Bolsonaro em outubro.

Nenhuma dessas credenciais é econômica, no entanto. A escolha da pasta se deveu mais a um desejo pessoal de Haddad, que não pretendia retornar à Educação depois de ser um dos mais longevos ocupantes do MEC.

Lula resolveu pagar para ver diante da desconfiança do mercado. A aprovação da PEC da Transição, de forma negociada e com concessões da parte do futuro governo, deu a ele a segurança para antecipar a indicação do nome, com a expectativa de que os agentes econômicos entendam que o recado a respeito da moderação e da disposição ao diálogo está sendo dado.

As escolhas de Flávio Dino para a Justiça e de Rui Costa para a Casa Civil seguem o mesmo critério da lealdade aos que estiveram juntos no tempo das vacas magras. O ex-governador do Maranhão é reconhecido no meio jurídico e tem um sabido bom trânsito político, o que assegurou seu lugar.

O governador da Bahia tinha um trunfo: abriu mão de uma garantida corrida ao Senado em nome de uma aliança que aumentasse ainda mais o poder de fogo de Lula na Bahia, estratégia altamente bem-sucedida. A antecipação da decisão de que Gleisi, a mais aguerrida defensora de Lula e do PT na tormenta da Lava-Jato e do impeachment de Dilma Rousseff, não seria ministra assegurou o caminho do governador baiano para a coordenação do governo. E deu a ela a possibilidade de, mantendo o comando do PT, continuar brigando pelos interesses do partido na composição do primeiro escalão.

Uma vez anunciados os primeiros ministros, a pergunta que fica é: qual será, afinal, o espaço da frente que foi ampla na campanha e até aqui vai se estreitando diante da cobrança por premiar o maior partido da coligação e os companheiros da travessia do deserto?

Quem até agora personifica essa contradição entre o entusiasmo do palanque e as agruras da fritura pós-urnas é Simone Tebet. Ela já foi “deserdada” pelo MDB, partido que, a despeito de ter acabado de colocá-la como candidata a presidente da República, não acha que deva garantir chancela para sua indicação. E, do lado do PT, enfrenta desconfiança para assumir o Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família, pasta que, entre muitas, a sigla pleiteia para si.

O que Lula fará com Tebet será um emblema importante de quanto a maleabilidade e a propensão ao diálogo que procurou demonstrar com ações como a escolha de Múcio e a negociação da PEC da Transição são mesmo propósitos firmes e de longo prazo.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

PERIGO - Só lembrando:
O roubo das senhas de acesso do eSocial pela equipe bolsonarista do PGuedez foi adiado hoje de 11 para 19 de dezembro.
E o site 'eSocial' está INOPERANTE hoje.

ADEMAR AMANCIO disse...

Torcendo para Simone Tebet.