Folha de S. Paulo
Provável ministro da Fazenda vai ter de
correr atrás de um prejuízo desnecessário
A nomeação de Fernando
Haddad vai ajudar a diminuir o sururu que começa a envenenar
perspectivas econômicas para 2023? Por si só, não. Haddad ou uma improvável
alternativa "x" vai ter de correr atrás de um prejuízo desnecessário,
causado no último mês pelo comando político luliano. Mas muito ainda pode ser
remediado.
Os donos do dinheiro esperavam
uma definição precoce do ministro-chefe da área econômica e, assim, de
diretrizes razoáveis ao menos para consertar a horrível situação das contas do
governo. Não houve definição precoce. A economia azedou. Decisões econômicas
cruciais foram tomadas sem que nem ao menos o grupo de economistas da transição
fosse ouvido. Vide o tamanho
do pacote de gastos da PEC da Transição.
Além da tarefa de consertar os danos causados pelo governo de trevas (2019-2022), o futuro ministro da Fazenda vai ter ainda de remover esse entulho deixado pelo comando político da transição. Isto é, aumento de déficit e dívida maior do que o esperado, ausência de diretrizes a respeito da nova regra de contenção do endividamento e, em decorrência disso tudo, expectativa de taxas de juros e de inflação maiores para 2023.
É possível remediar muita coisa até porque,
em um cenário mundial ruim, o Brasil pode ter atrativos. Um governo civilizado
pode reforçar esse interesse e estabilizar um país destroçado por quatro anos
de selvageria.
Além do mais, a aprovação do pacotão que
autoriza despesas adicionais de pelo menos R$ 169 bilhões não significa,
necessariamente, que esse dinheiro todo será gasto. Um ministro da Fazenda
prestante pode dosar a despesa, a depender do andamento de PIB, receita de
impostos, juros e inflação.
Mas, para começar: um Haddad e uma
andorinha apenas não fazem um verão. Não se sabe o que o possível futuro
ministro da Fazenda pensa, de modo sistemático e explícito. Se fizer um
discurso inicial com diretrizes sensatas e, muito importante, nomear logo sua
equipe, pelo menos seus três principais secretários, de certo modo estará
dizendo o que tem em mente e mostrando quão capaz e autônoma pode ser sua
administração.
Para continuar, a nomeação de sua equipe
pode ajudar buscar o tempo perdido. Ainda que o grupo de transição na economia
tenha adiantado diagnósticos, elaborar medidas dá trabalho: estudo, projeto,
teste e autorização política para tocar a coisa.
Para terminar, é preciso analisar o tamanho
do poder de Haddad. O ministério da Economia é um gigante monstruoso e sem
sentido. Será fatiado. Que políticas e instituições importantes ficarão fora da
alçada de Haddad, da Fazenda? Ou com alguém de pensamento diferente?
Parte das instituições relacionadas a
"políticas de desenvolvimento" (Deus nos ajude) deve parar em um novo
ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
O comando político da transição diz que
o BNDES vai
para o MDIC e que o banco seria um piloto da política de reindustrialização
(que pode ser qualquer coisa, boa ou ruim). Mais do que isso, parece que
acordaram a ideia zumbi de criar taxas de juros especiais a fim de se financiar
investimento (muita vez apenas meio de baratear o capital de empresonas, sem
ganho algum de investimento ou eficiência econômica).
O ministério do Planejamento deve ser
recriado. Vai voltar a ser responsável pela elaboração do Orçamento ou seria
apenas um ministério da Administração?
Quando mais fortes forem MDIC e
Planejamento e seus respectivos ministros, mais dificuldades terá a Fazenda. É
uma história cheia de atritos, desde os anos 1960.
Isto posto, Haddad ou o ministro x ainda
pode dar um jeito nos danos causados pelo governo de transição.
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