O Globo
O nome de Caio Paes de Andrade para a
presidência da Petrobras representa a mais forte tentativa de intervenção na
companhia desde a aprovação da Lei de Responsabilidade das Estatais, de junho
de 2016. A indicação tem um propósito claro: mudar a política de preços dos
combustíveis para segurar a inflação e beneficiar o presidente Jair Bolsonaro
em sua tentativa de reeleição.
No mercado, há cálculos de que o
projeto do ICMS, que tramita no Congresso, somado a um congelamento do diesel e
da gasolina, poderia diminuir em até dois pontos percentuais o IPCA deste ano.
Paes de Andrade não tem currículo para o posto, mas o governo aposta em uma
brecha na Lei para que ele assuma o cargo.
Fontes da Petrobras contaram à coluna que, mesmo com a mudança no Ministério de Minas e Energia, havia a expectativa de que José Mauro Coelho pudesse continuar à frente da empresa. Para evitar uma nova mudança brusca na gestão da maior companhia do país, eles acreditavam em algum tipo de “acomodação” do executivo no cargo e lembravam evento na última semana, no Jardim Botânico, no Rio, em que Bolsonaro esteve presente mas não fez ataques à diretoria.
Com a confirmação da troca, o clima passou
a ser de apreensão, com a certeza de que o governo fará o que for preciso para
atingir os seus objetivos políticos.
A expectativa recai agora sobre o Comitê de
Pessoas (Cope) da estatal, que irá elaborar um parecer para assessorar o
Conselho de Administração, que terá a palavra final sobre a aprovação ou
reprovação de Paes de Andrade. Ele claramente não cumpre as exigências para
assumir a Petrobras, mas o governo irá se apegar a um pequeno trecho da lei
para tentar contorná-la: o artigo 17, alínea a, diz que é preciso experiência
profissional de no mínimo 10 anos na área de atuação ou em área conexa para a
qual for indicado.
É essa “área conexa” que poderá ganhar uma
interpretação mais abrangente para permitir a aprovação, me disse uma fonte da
companhia. Se isso acontecer, o risco de judicialização será enorme, porque
qualquer acionista poderá contestar a medida.
No mercado, gestores tinham sentimento de
incredulidade e resignação de que as intervenções vieram para ficar. Por isso a
queda das ações ontem aqui no Brasil e nos Estados Unidos. Essa percepção irá
se refletir sobre o valor da companhia no longo prazo, embora no curto prazo o
momento ainda seja favorável, pelos preços elevados do petróleo que irão
engordar o caixa da empresa.
Ainda assim, para quem se iludiu com uma
suposta agenda liberal deste governo, ficou provado mais uma vez que tudo não
passou de uma enorme cortina de fumaça.
Patrão x empregado
Empresários e consumidores estão com
percepção diferente sobre os rumos da economia. Enquanto a confiança dos
empresários está em alta, segundo o Ibre/FGV, a dos consumidores permanece em
nível extremamente baixo. Os patrões estão empolgados com a reabertura da
economia, enquanto os empregados estão sofrendo para pagar contas e manter
despesas essenciais. Como há mais votos entre os trabalhadores do que entre
empregadores, fica evidente que a economia não é fonte de boas notícias para o
candidato Jair Bolsonaro.
Barulho por pouco?
O banco J.P. Morgan diminuiu de 9,1% para
8,7% sua estimativa para o IPCA deste ano, levando em conta uma mudança no ICMS
e o congelamento dos combustíveis até novembro, depois das eleições. Sem as
medidas, o número subiria para 9,4%. A inflação continua forte e espalhada,
como mostrou ontem o IPCA-15, por isso, o governo corre o risco de promover um
enorme ruído político para ter pouquíssimos ganhos no controle do índice.
Afinal, para o consumidor, os preços altos continuarão perceptíveis na hora de
pagar as compras na boca do caixa.
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