Senadora recebe apoio do MDB, mas precisa crescer nas pesquisas e conter dissidências
Por Bianca Gomes e Gustavo Schmitt / O
Globo
Embora ainda precise confirmar a
consolidação da terceira via, crescer nas pesquisas e driblar eventuais
traições dentro do próprio partido, a senadora Simone Tebet (MS) teve sua
pré-candidatura à Presidência referendada na terça-feira por
emedebistas dos principais estados do país.
Presidentes de pelo menos 22 dos 27
diretórios do partido manifestaram apoio à senadora, confirmando cenário
favorável para homologação da pré-candidatura nas convenções do meio do ano.
Além disso, Tebet teve seu nome aprovado ontem, por unanimidade, pelo
Cidadania.
Com 1% das intenções de voto e sem nunca
ter disputado uma eleição presidencial, Tebet aposta em uma coligação com o
PSDB para ampliar o tempo de televisão e tentar ser mais conhecida
nacionalmente nos próximos meses.
Apesar de ser a representante virtual da
terceira via, há obstáculos para garantir o apoio dos tucanos, uma vez que uma
ala do partido faz pressão interna por uma candidatura própria. Soma-se a isso
o fato de que PSDB e MDB se enfrentam nas eleições aos governos em pelo menos
dois estados: Paraíba e Distrito Federal.
Os defensores de uma aliança entre
emedebistas e tucanos alegam que a eventual chapa poderia destravar negociações
entre as legendas nos estados do Rio Grande do Sul, onde o deputado Gabriel
Souza (MDB) é apontado como possível vice de Eduardo Leite (PSDB) ou do atual
governador Ranolfo Vieira Júnior; Pará, onde os tucanos querem indicar a vice
da chapa do governador Helder Barbalho (MDB); e São Paulo, onde o emedebista Edson
Aparecido é o mais cotado para ser vice do governador Rodrigo Garcia (PSDB),
que concorre à reeleição.
Mesmo com a chancela formal da maior parte da cúpula emedebista, Tebet terá de fazer campanha ao lado de correligionários que vão pedir votos para Lula e Bolsonaro, os dois mais bem colocados nas pesquisas.
No Distrito Federal, o governador Ibaneis
Rocha tem feito declarações públicas em defesa da senadora, mas tem em sua base
partidos que são alinhados a Bolsonaro. Ibaneis terá como adversário o senador
tucano Izalci Lucas, que já foi vice-líder do governo Bolsonaro.
Hoje, no entanto, o maior desafio de Tebet
é a região Nordeste, onde Lula desponta como o favorito. Lá, os emedebistas
Renan Calheiros (AL) e Eunício Oliveira (CE) trabalham publicamente contra a
candidatura da senadora. No Rio Grande do Norte, o deputado federal Walter
Alves (MDB) deve ser vice da ex-governadora petista Fátima Bezerra,
dificultando um apoio a Tebet. Ainda assim, há sinais de que a senadora pode
quebrar resistências. No Maranhão, a ex-governadora Roseana Sarney, que teve
encontros recentes com Lula, foi mais uma a apoiar Simone nas redes sociais.
Tendência a Bolsonaro
Aliados da senadora reforçam que, embora
haja apoio predominante a Lula no Nordeste, os candidatos emedebistas não vão
se recusar a subir no palanque de Tebet ou recebê-la em seus estados durante a
campanha. Também negam que a situação prejudique o apoio ao seu nome nas
convenções partidárias. É o caso, por exemplo, do senador Veneziano Vital do
Rêgo, que afirma apoiar “convictamente” o nome de Lula na disputa estadual ao
governo da Paraíba. Lá, Veneziano concorrerá contra o deputado Pedro Cunha
Lima, do PSDB.
Ainda assim, dirigentes do MDB veem o nome
de Tebet fortalecido internamente e dizem que a pré-candidatura da senadora é
uma forma de pacificar as divisões na sigla na direção da polarização nacional.
Nos bastidores, emedebistas dizem que, num
cenário de não ter candidatura própria à Presidência, o temor seria que a
maioria das lideranças apoiasse a reeleição de Bolsonaro, cuja gestão foi
marcada por ataques contra as instituições. O partido, que tem tradição ligada
à defesa da democracia, participou de todos os governos desde a
redemocratização do país, com exceção da gestão Bolsonaro.
Presidente do diretório estadual do Rio
Grande do Sul e da Fundação Ulysses Guimarães, o deputado federal Alceu Moreira
(RS) se diz um entusiasta da candidatura de Tebet. Apesar disso, não hesita em
dizer que prefere Bolsonaro a Lula.
— Vou trabalhar pela candidatura da Simone
porque acho que o Brasil precisa de uma alternativa. Sou emedebista para apoiar
Tebet. Mas também sou antipetista. Entre Lula e Bolsonaro, eu sou Bolsonaro —
afirma Moreira.
Na reunião de ontem, lideranças do partido
gravaram vídeos em apoio à pré-candidatura de Tebet. Entre os nomes estão o
senador Jarbas Vasconcelos (PE) e a senadora Rose de Freitas, que disputará o
governo do Espírito Santo.
— Hoje a reunião consolidou e tirou
qualquer dúvida sobre o apoio do partido à pré-candidatura de Simone. No
partido, 90% declararam expressamente apoio a ela — disse ao GLOBO o presidente
nacional do MDB, Baleia Rossi (SP), que ainda minimizou os palanques duplos nos
estados. — Cada um tem a sua realidade.
Segundo Baleia, o partido só ganha com a
pré-candidatura de Tebet, principalmente porque a legenda quer sair da “briga
campal da polarização” e discutir projetos para o país.
Garcia e Doria
Enquanto Tebet tenta unificar o MDB, no
aliado PSDB o desafio é aparar as arestas. Um dia após desistir de concorrer à
Presidência da República, João Doria esteve ontem lado a lado com o governador
Rodrigo Garcia na capital paulista.
O encontro protocolar aconteceu num evento
do grupo Lide, ligado a Doria. O governador fez elogios ao gesto de
“desprendimento” do antecessor ao desistir de concorrer, mas evitou dizer se
gostaria de ter Doria em seu palanque.
Desde que assumiu o cargo no mês passado,
Garcia trabalha para se descolar do padrinho político devido à alta rejeição
nas pesquisas. Seu grupo passou a apoiar a saída de Doria da corrida
presidencial, que era vista como empecilho à reeleição do governador.
(colaborou Eduardo Gonçalves)
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