Folha de S. Paulo
Conta vai aparecer em algum lugar, como no
descrédito financeiro do país
A Câmara
dos Deputados está para aprovar um subsídio federal para o consumo de
combustíveis, energia elétrica, comunicações e transporte. Isto é, quer fazer o
governo federal bancar parte do custo do consumo desses bens e serviços.
Como? Obrigando o governo federal bancar
parte das perdas que estados e municípios terão com a redução do ICMS sobre
esses bens e serviços (segundo projeto que tramita na Câmara).
E daí?
A inflação
não está altíssima? Sim.
O governo federal tem dinheiro para bancar
esse subsídio? Não. Caso não corte outras despesas (o que não vai fazer), será
obrigado a tomar mais empréstimos para bancar essa conta, essa perda de receita
dos estados. Isto é, vai fazer mais dívida, ao custo de mais de juros de mais
de 13% ao ano.
A conta vai aparecer em algum lugar, na dívida e no descrédito financeiro do país. Assim como vai aparecer, mais cedo ou mais tarde, nas finanças de estados e municípios.
Enfim, é a conta da tentativa de reeleição
de Jair Bolsonaro e de seus amigos do centrão. Reduzem impostos, aumentam o
rombo das contas federais etc. Depois da eleição, vem o rolo. Quantas vezes já
vimos esse filme? Chama se "Estelionato Eleitoral". Na verdade, é uma
série.
A Câmara quer baixar o ICMS que estados
cobram sobre combustíveis, energia elétrica, comunicações e transportes. Um
projeto de lei determina que esses bens e serviços sejam classificados como
"essenciais". Isto é, não podem ter alíquota de ICMS maior do que a
alíquota padrão ("modal") de cada estado, que é de 17% ou 18%.
Os estados reclamaram que perderiam R$ 64,2
bilhões. Por tabela, as cidades perderiam também, porque parte da receita do
ICMS é repassada para os municípios.
A fim de não perder dinheiro, os estados
apareceram com essa ideia de "dividir" a dolorosa com o governo
federal.
Se essa conta de perdas do Comitê Nacional
dos Secretários de Fazenda dos Estados e do Distrito Federal (Comsefaz) está
certa, o governo federal deve ter de bancar perdas de uns R$ 27 bilhões por
ano.
O Bolsa Família custava uns R$ 34 bilhões
por ano. O Auxílio Brasil deve pagar uns R$ 89 bilhões neste ano.
O ministério da Economia vinha dizendo que
não queria o subsídio federal para combustíveis. Dizia que faria efeito pequeno
e custaria caro. Agora, a Câmara pode aprovar um subsídio para diesel,
gasolina, energia elétrica, comunicações e transportes.
O subsídio saiu por uma porta, entrou pela
outra. Fez esse passeio com estímulo do próprio governo federal. Paulo Guedes e
turma vinham dizendo que o governo está com "excesso de arrecadação".
Portanto, queria "devolver recursos à sociedade".
O governo teve receita além do previsto.
Mas, ainda assim, gasta mais do que arrecada (mesmo descontada a despesa com
juros da dívida. Ou seja: tem déficit primário). Logo, ao reduzir impostos, não
está devolvendo nada. Está fazendo mais dívida.
Caso seja aprovada, a lei deve ter algum
efeito temporário nos preços, embora parte desse desconto, dessa redução de
impostos, possa ser apropriada por alguém na cadeia de negócios, ao menos no
caso de combustíveis.
O subsídio vale para todo mundo, seja rico,
remediado ou pobre. Ou seja, vai se fazer dívida a fim de baratear a conta de
luz ou de gasolina também dos mais ricos, entre outros problemas. Para piorar,
parte dos subsídios, ao menos, vai beneficiar os mais ricos, pois em vários
casos os mais pobres pagam tarifas sociais.
Além do mais, quem ganha com os juros do
governo? Os mais ricos, que têm dinheiro para emprestar ao governo.
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