O Globo
O ex-presidente Bolsonaro, às vésperas de
ser tornado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), se denomina
“líder da centro-direita”, tentando, na base da retórica, ampliar seu raio de
ação que, na verdade, limita-se à “extrema-direita”. Os votos da centro-direita
foram para ele em 2018, assim como iam para o PSDB anteriormente, sem que ele
nada tivesse de semelhante com os candidatos tucanos que disputaram a
presidência contra o PT. Simplesmente eram a opção do momento para tentar
derrotar o petismo, deu certo com Bolsonaro, com Collor em 1989, quase deu
certo com Aécio Neves contra Dilma.
Nas eleições de Fernando Henrique, a polarização entre PT e PSDB deu-se mais pelo Plano Real do que por questões ideológicas. Mas o eleitorado sempre foi o mesmo, conservador e de centro-direita. A centro-esquerda dividiu-se entre Lula e Fernando Henrique nas eleições seguintes, e em 2022 uniu-se em torno do PT para derrotar Bolsonaro. Muitos da centro-direita foram para esse lado, desmentindo o protagonismo que Bolsonaro pretende ter nessa faixa do eleitorado.
Ele, por si e por sua ação política, não
tem condições de levar de volta esse eleitor, mas está fazendo um caminho
cauteloso na escolha de candidatos moderados para as eleições municipais
justamente para entrar nesse espaço eleitoral. Potenciais candidatos à eleição
presidencial pela centro-direita, como Tarcisio de Freitas em São Paulo, Zema
em Minas, e outros, terão que não se contaminar demasiadamente com Bolsonaro
para não perder o apoio desse centro estendido, que o PT poderá ocupar com
Fernando Haddad, ministro da Fazenda que desponta como o futuro do petismo
moderado.
Conta-se que ao escolher Haddad para disputar
o governo paulista, o presidente Lula disse que ele tinha “jeito de tucano” e
poderia agradar ao eleitorado paulista. O governo tem tido sucesso no Congresso
com as pautas que fazem parte do projeto econômico. Mais acentuadamente na
Câmara, e um pouco no Senado, as dificuldades maiores são com assuntos mais
próximos da ideologia do PT, inclusive a política do meio ambiente. O Congresso
é de centro-direita, conservador, e por isso as questões de valores são mais
difíceis de serem aprovadas, e também as que mexem com o espírito privatista
que prevalece no Congresso desde que Michael Temer assumiu o governo no lugar
da então presidente Dilma.
Mudar o marco do saneamento para permitir a
atuação do estado que deu errado até hoje, ou anular a privatização da
Eletrobras, são medidas que foram confrontadas pelo Congresso como aviso ao
Executivo de tendência estatista. Mas as propostas da equipe econômica têm
passado, muito porque o ministro Fernando Haddad está se dispondo a conversar
com os parlamentares, e a contenção de gastos e incentivos ao crescimento têm
apoio da maioria. A dificuldade do terceiro governo de Lula é justamente que a
gula por emendas não desapareceu, ao contrário, foi acrescida de uma visão
conservadora que não tinha voz nos governos anteriores. Depois de Bolsonaro, os
parlamentares de extrema-direita, da direita e do centro-direita encontraram
espaço para suas reivindicações, já não se envergonham dos pleitos fisiológicos
e se sentem em condições de aprovar projetos como aquele que criminaliza as
críticas aos próprios parlamentares.
Ao lado da recuperação econômica, que
parece estar a caminho, embora lentamente, Lula tenta recuperar também sua
imagem na política exterior. Tem tido relativo sucesso, especialmente se
comparado ao antecessor, mas encontra obstáculos quando não se coloca ao lado
do Ocidente na guerra da Ucrânia, e começa a criticar também os aliados,
culpando-os pela poluição por causa da Revolução Industrial. Ora, a Revolução
Industrial foi um avanço da Humanidade e gerou riqueza, avanços sociais, num
momento em que a questão da poluição ambiental não estava posta.
5 comentários:
■Jair Bolsonaro se dizendo ser "de Centro-Direita? ▪Me lembra setores da militância do PT, que em muitas fazes, instados pela conveniência, se disseram e ainda se dizem ser "de Centro"!
■Os sabores ideológicos são seis.
=>No centro mesmo --no exato centro-- não tem ninguém:: o Centro Político é apenas imaginário.
Segue, aos dois lados do centro imaginário, no arco ideológjco::
▪Centro-Esquerda e Centro-Direita;
▪Esquerda e direita;
▪Extrema-Direita e Extrema-
Esquerda.
São estes seis, os sabores ideológicos.
Eu, pessoalmente, não considero mais que alguma ideologia defina a vida e que explique o mundo. E não há nenhuma marca de superioridade ou de inferioridade moral ou técnica em nenhum dos lados ideológicos. A boa técnica, sustentada em bom planejamento e bom conhecimento teórico, sempre será a mesma, independentemente do viés ideológico de quem opere a técnica e a despeito da definição ideológica que a força que estiver operando a política dê para si mesma.
▪Uma ilustração que faço, de que a ideologia não é o mais importante, é citando dois operadores políticos, um identificado à direita, Ângela Merkel, da Alemanha, e outro identificado à esquerda, Gabriel Boric::
=>Em quê a ideologia foi ou está sendo o mais importante no elogiável desempenho destes dois operadores políticos (abstraindo de dificuldades eleitorais de Gabriel Boric neste seu início de mandato, dificuldades que poderão ou não serem superadas com o correr do mandato) ?
Mas eu não nego a existência das ideologias compondo as diferentes visões de mundo e nem as demonizo, apesar de eu não mais me definir ideologicamente.
■Não é nenhuma ideologia que tem atrapalhado a técnica. A ideologia não atrapalha nem mesmo a lucidez política, como atrapalharia a técnica? O que tem atrapalhado a técnica é a pratica política cheia de vícios fisiológicos, cheia de demagogia e de corporativismo, que é a prática de grupos políticos populistas, que se mobilizam só pelo poder e as vantagens pessoais que o poder pode proporcionar. Outro fator a atrapalhar a boa técnica é o ideologismo.
O ideologismo e/ou os populismos, estes sim, atrapalham e muitovo exercício da boa política!
Os populismos, estes são os grandes vilões que impedem o exercício saudável da necessária política, vide o lulismo, o bolsonarismo, o trampismo e o putinismo.
Já o ideologismo, mesmo quando não é vilão da política, atrapalha quando alguém ou algum grupo político busca afirmar posições por declarações de intenção, sendo que na prática não guardam nenhuma coerência séria com o que dizem que defendem. Sempre estas enganações por meio de retórica e declarações de intenção são feitas exatamente por quem, na verdade, não tem formação política mais consistente e nenhuma coerência ideológica, que sempre exige compromisso e boa formação teórica de seus adeptos, concorde-se ou não com aqueles que são mais ideológicos. Mas quem ideologiza sempre o faz por não ter a formação política e ideológica necessária.
Portanto, sabores verdadeiramente ideológicos, mesmo quando minoritários e/ou extremista, são visões de mundo reais e, portanto, legítimas. A estas deve-se respeito, mesmo que delas se discorde. Já os grupos políticos populistas ou aqueles que, pelo pouco compromisso ideológico e pequena formação política, expressam mais o ideologismo e quase nenhuma ideologia, a estes não cabe respeito nenhum!
Em tempo:: eu não consudero Lula ou Bolsonaro em nenhum sabor ideológico, para mim eles são apenas populistas. E bem venais!
Fernando Haddad é um esforçado político de esquerda que, infelizmente, tem sua coerência muitas vezes comprometida pela grande proximidade com o populismo lulista e com ideologistas petistas.
Romeu Zema e Tarcísio de Freitas eu não considero serem de Centro-Direita. Para mim , Zema e Tarcísio são ideológica e coerentemente de direita. Zema, um empresário e hoje político de uma respeitada direita.
Ah, Merval, Merval...
Colunista a soldo (e caro),com ABL no bolso, como se fora um foro privilegiado (fôra um foro, fora um foro, fora foro, sorry)...
Se a Revolução Industrial gerou um Merval, isso não foi avanço p* nenhuma, como se dizia...
Onde está fazes, leia fases. E desculpe!
''Colunista a soldo'',manjo bem esse discurso,rs.
A esquerda é moralmente superior,na minha opinião.
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