Blog do Noblat / Metrópoles
Analfabetismo, desnutrição, concentração de
renda, juros …
O Brasil tem muitas taxas malditas – de
analfabetismo, desnutrição, concentração de renda, juros….- mas preferimos
indicar culpados, em vez de buscar as causas. Mantivemos uma maldita taxa de
100% de habitantes pretos escravos, até que uma lei abolisse este sistema, sem
enfrentar as causas da escravidão. Até hoje, a maldita taxa de analfabetismo
entre adultos condena milhares de brasileiros a trabalho em condições análogas
à escravidão. A redução das malditas taxas de juros deve enfrentar a maldita
baixa taxa na oferta de poupança e a elevada maldita taxa de demanda por
crédito.
O Banco Central pode decretar a taxa de juros básica que lhe aprouver, mas as consequências virão depois, tanto quanto as consequências da doença de um paciente com médico negacionista. Enganar não cura, o negacionismo não ensina. O engano negacionista assassinou milhares de pessoas por covid, a determinação voluntariosa da taxa juros pode levar o Brasil à recessão, se for alta, ou à convulsão de inflação alta, se for baixa.
Ninguém pode estimar exatamente qual a taxa
de juros certa para manter a moeda sem inflação, deixando a economia crescer e
gerar emprego. Ainda menos os políticos, de olho nos desejos e ilusões dos
eleitores, que se comportam como os familiares que pedem ao médico para dizer
que a temperatura do paciente não está muito elevada. Se fosse determinada pela
vontade do governo, a taxa de juros poderia ficar baixa para dinamizar a
economia, ou ser elevada para evitar inflação como aconteceu em anos recentes,
quando chegou a 49,75%, com FHC, 26,9% com Lula, 14,25% com Dilma e 13,75% com
Bolsonaro.
No lugar de denunciar o presidente do Banco
Central com culpado pela maldita taxa de juros que ele não determina sozinho,
deveríamos pensar como fazer para que o Brasil poupe mais e use menos crédito,
para que as forças econômicas confiem no futuro, e os juros caiam independente
de quem esteja no Banco Central”.
É ilusão negacionista achar que a taxa de
juros depende da vontade dos dirigentes do Banco Central, seu conselho, ou
ainda pior, de seu presidente. Ela depende da disposição dos brasileiros para
poupar ou consumir, para comprar à vista ou a prazo. Enquanto formos uma
sociedade com voracidade de consumo e anorexia de poupança, os juros serão
altos ou serão mentirosos, e caminharemos para a convulsão da inflação. Ninguém
sabe qual deve ser a taxa de juros correta, mas é melhor deixar sua definição
no conhecimento de um Banco Central independente, do que na vontade de eleitos
querendo agradar seus eleitores.
*Cristovam Buarque foi senador, ministro e
governador
Um comentário:
Brasileiro não poupa mesmo,é uma gastança sem fim.
Postar um comentário