O Globo
A confusão em relação à meta fiscal completou duas semanas ontem sem que o governo tenha tido qualquer ganho com a ideia sugerida pelo presidente Lula. A aprovação da Reforma Tributária foi histórica, apesar das concessões que pioraram o texto no Senado, e a inflação de outubro veio abaixo do esperado. Em condições normais de temperatura e pressão econômicas, o Banco Central já estaria dando sinais de aceleração nos cortes de juros, mas a piora externa e as palavras de Lula criaram um ambiente de incerteza. Como bem pontuou o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, em evento do Itaú na quinta-feira, do ponto de vista da política monetária, manter a meta fiscal em 2024 é tão importante quanto a manutenção da meta de inflação de 2026. Sobre o cenário externo, o governo federal não tem controle. Já sobre as declarações do presidente Lula na economia, é preciso que alguém tenha a franqueza de dizer ao chefe que elas têm sido pouco construtivas.
Ilha petista
O passar dos meses mostra que Haddad
permanece sendo uma ilha de pensamento econômico entre os ministros petistas no
governo. Sem ele, Lula estaria ainda mais próximo do governo Dilma do que de
seus dois mandatos.
A vida como ela é
O placar apertado da votação da Reforma
Tributária no Senado, que passou com apenas quatro voto a mais do que o
necessário, alivia a barra do relator Eduardo Braga (MDB-AM), que ampliou o
número de setores beneficiados e criou regras que não fazem sentido, como a
prorrogação de benefícios para a indústria automotiva no Norte, Nordeste e
Centro-Oeste. Braga e o governo foram obrigados a ceder, sob risco de a reforma
morrer no plenário.
Quebra de acordo?
A conversa do presidente da Câmara, Arthur
Lira, com jornalistas na última terça-feira tinha como foco falar do projeto
que pretende estimular a transição energética. Mas Lira não perdeu a
oportunidade de dar o recado: na visão dele, o arcabouço fiscal é uma proposta
do Executivo e foi negociado com deputados e senadores já com os parâmetros
estabelecidos. Esses números — como a promessa de déficit zero no ano que vem —
foram fundamentais para angariar votos de políticos preocupados com as contas
públicas. Lira não quis chamar a mudança de quebra de acordo, mas não escondeu
a insatisfação com o ruído provocado por Lula.
‘Ativo do país’
O economista-chefe do Instituto Internacional
de Finanças (IIF), Robin Brooks, foi às redes sociais exaltar o BC brasileiro,
após a divulgação do IPCA. Como mostra o gráfico, a queda da inflação no Brasil
colocou o país no mesmo patamar de economias desenvolvidas. “O núcleo da
inflação do Brasil (4,32%) caiu para os níveis do G10 e já não se distingue dos
números da zona do euro (4,2%) ou dos EUA (4,1%). O Banco Central merece todo o
crédito por isso. Ele caminhou bem antes dos outros. O Bacen é um dos ativos
mais fortes do Brasil”, disse.
‘Errar no fácil’
O presidente e sócio do BTG, André Esteves, durante evento do banco esta semana, em São Paulo, traçou cenário positivo para a economia brasileira: as mudanças geopolíticas no mundo, que distanciaram China e Rússia das principais potências ocidentais, colocaram o Brasil como destino de investimentos. Além disso, nossa democracia se mostrou sólida e o debate fiscal é tema recorrente entre as lideranças políticas. “A opinião lá fora sobre o Brasil é extremamente positiva. Se a gente errar, vai errar no fácil,” sintetizou.
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