Valor Econômico
Afirmações sobre "fantasminha" e "coro velado" ampliaram pressão nos juros e dólar
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
assustou os mercado financeiro com a afirmação de que “tem um
fantasminha” e um “coro velado” dizendo que a inflação está muito alta,
contribuindo para a pressão nos juros negociados em mercado e para a alta
na cotação do dólar.
Mas, ao longo de horas de depoimento na Câmara dos Deputados, ele fez um dos seus melhores diagnósticos sobre como — na sua linguagem — “harmonizar” a política monetária e fiscal. São necessárias reformas nas instituições fiscais, como a vinculação constitucional de receitas, para aumentar a potência da política monetária e levar a inflação para a meta, definida em 3%.
As declarações de Haddad assustaram porque,
ultimamente, o mercado está arisco com a possibilidade de interferência
política no Banco Central, depois que os quatro membros indicados pelo governo
Lula deram votos dissidentes para uma baixa mais forte de juros em reunião do
Comitê de Política Monetária (Copom) ocorrida há duas semanas.
Ministros da Fazenda sempre causam estragos
quando falam sobre assuntos do BC. Foi o que ocorreu, por exemplo, quando Paulo
Guedes defendeu a venda de reservas cambiais. Haddad está mais no foco porque,
provavelmente, será consultado para a escolha de três novos membros do BC,
incluindo o presidente.
Haddad tem razão quando diz que o esforço
desinflacionário em 2023 foi maior do que aparenta, porque o governo Bolsonaro
provocou uma queda artificial e temporária de tarifas de energia com o corte de
impostos. Mas daí a concluir que a inflação está baixa e totalmente sob
controle vai uma grande distância.
No ano passado, os índices de inflação caíram
além do esperado graças à queda de preços internacionais, como bens industriais
e petróleo. A baixa do IPCA cheio levou a uma inércia positiva, que desacelerou
os reajustes de preços de serviços. Tudo isso levou a inflação para 3,69% nos
12 meses até abril.
Esse efeito já passou. O mercado acha que,
neste ano e no próximo, a inflação ficará praticamente estável, sem ir para a
meta de 3%. O BC se vê às voltas com uma economia e um mercado de trabalho mais
aquecidos que o esperado, com juros internacionais mais altos, aumento de
incertezas fiscais e desancoragem das expectativas de inflação.
Haddad fez o que, talvez, foi o seu melhor
diagnóstico sobre como o fiscal pode ajudar a baixar a inflação. Em outras
vezes, ele deu ênfase na importância de cortar o juro para sustentar a economia
e a arrecadação. O discurso dava a impressão de que o fiscal dominaria o
monetário. Ontem, ele disse que o plano, desde o início do governo, é reduzir a
expansão fiscal para substituí-la pela expansão monetária.
O mais importante , porém, foi o seu
diagnóstico mais estrutural. “Se o Brasil está com dificuldade de cumprir uma
meta mais baixa, e se a inflação fica insensível à taxa de juro, nós temos que
pensar nas condições institucionais do país”, disse. “ É o nosso quadro fiscal
no sentido amplo, as vinculações, uma série de problemas da nossa Constituição,
aos quais não foram dados os tratamentos adequados.”
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