O Estado de S. Paulo
De governo a mercado, todos têm de evitar a repetição de velhos erros do passado
O Ministério da Fazenda não apresenta uma agenda de cortes de gastos e derruba iniciativas em estudo no Ministério do Planejamento. O Planejamento, depois de um ano e meio de governo, ainda não conseguiu colocar de pé um programa sólido de avaliação e revisão de despesas. Na Presidência, o que se escuta é o que há de pior em análises econômicas, encabeçadas pela Casa Civil e com apoio do PT e do Ministério de Minas e Energia. Sob Lula, a Petrobras sofre da mesma instabilidade que sob Bolsonaro, enquanto no Congresso “jabutis” de todas as espécies são aprovados com subsídios que distorcem o sistema e encarecem a conta de luz.
A atuação dos principais agentes econômicos
do País já seria questionável se parasse por aí, mas a novidade das últimas
semanas foram confusões provocadas pelo Banco Central e pelo próprio mercado
financeiro. No BC, quatro diretores indicados por Lula resolveram, do nada,
colocar em xeque a forma de comunicação do banco. Criaram uma cisão na última
reunião do Copom trazendo à tona um argumento totalmente novo no regime de
metas para justificar um corte maior da Selic: admitiram que o quadro piorou,
mas que não podiam mudar de ideia porque havia um compromisso feito na reunião
anterior.
O resultado foi uma forte piora das
expectativas de inflação, que é agravada também pelo comportamento quase que
adolescente do mercado financeiro. Embora a ata do Copom tenha sido clara em
mostrar que todos os nove diretores do BC estão preocupados com a inflação – e
que a divisão aconteceu por essa visão idiossincrática na comunicação –,
economistas e investidores deram de ombros e incorporaram em seus modelos a
variável “estou chateado e não gosto de vocês”.
O componente emocional dessa equação – ou
seria político? – atingiu o cúmulo com o aumento de 5,78% para 8%, de uma
semana para a outra, feito por uma instituição financeira para o IPCA de 2026.
Como o boletim Focus é anônimo, o País ficará sem saber quem foi o responsável
pela graça e que fundamentos técnicos foram utilizados. O problema é que, se a
moda pega, a mediana das expectativas sobe, e o BC será obrigado a elevar mais
os juros para conter essa piora das projeções.
Ontem, a ata do Fed, o banco central americano, veio em tom mais duro, o que sugere juros mais altos por lá por mais tempo. O dólar voltou a subir frente ao real, o que significa mais pressão sobre a inflação. Com o cenário internacional mais incerto, o Brasil precisa fazer a sua parte e evitar a repetição de erros velhos na economia.
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