O Estado de S. Paulo
Pior do que o negacionismo, que é rejeitar a
existência de problemas reais, é a crença ingênua e falsa sobre as condições da
economia. Pois isso acontece no governo Lula sobre a questão da qualidade das
contas públicas.
Não é que o presidente Lula apenas negue a existência de um preocupante desequilíbrio fiscal no Brasil. Ele entende que a austeridade na condução das finanças públicas não é importante, é coisa do neoliberalismo, do Fundo Monetário Internacional, do mercado financeiro, da elite que ocupa os edifícios da Avenida Faria Lima, onde se concentra grande parte das sedes dos bancos. E entende que aqueles que defendem a responsabilidade fiscal trabalham contra o governo, ou seja, são adversários políticos.
No entanto, é o equilíbrio fiscal que
possibilita políticas sociais, despesas com segurança, saúde e educação e
investimentos no futuro do País.
Quando, como agora, se veem declarações ou,
mesmo, muxoxos do presidente Lula diante das reclamações sobre a flagrante
deterioração das contas públicas, o abandono sumário do arcabouço fiscal e o
império da gastança, as expectativas da opinião pública sobre as condições da
economia também se deterioram.
Como está na última ata, todos os membros do
Copom, incluídos os indicados pelo governo Lula, concordam em que a situação
fiscal piorou e em que a incerteza está tomando conta de corações e mentes.
Quando é assim, os juros de mercado disparam, o crédito encarece, os
investimentos ficam mais difíceis, a atividade econômica leva um tranco e a
disposição do eleitor em votar em nomes apoiados pelo governo também diminui.
O governo Lula e seu partido estão perdendo
interlocução com o povo. Perderam os evangélicos, porque defendem uma pauta de
costumes diferente. Perderam os trabalhadores de aplicativos, porque não querem
se sindicalizar como insiste o ministro do Trabalho. Perderam os
microempreendedores individuais, porque parte não quer ser enquadrada na CLT.
Estão perdendo os trabalhadores do interior porque estes estão ligados ao agro,
que não apoia o atual governo. Estão perdendo os funcionários públicos porque
se sentem espoliados pelo governo. Estão perdendo até mesmo as esquerdas porque
já não há mais velhas ideologias que as unam, como as da luta de classes e da
ditadura do proletariado.
As esquerdas seguem multidivididas por pautas
identitárias, cada grupelho se opondo aos demais. O governo Lula e o PT ainda
mantêm certa influência sobre os sindicatos que, no entanto, perderam o poder
de mobilização. Já não conseguem reunir mais do que 2 mil pessoas, como visto
nas últimas festividades de 1.º de maio.
Como escreveu Nelson Rodrigues: coisas ditas
apenas uma ou duas vezes continuam inéditas. Então, é preciso insistir. O mundo
mudou, o mercado de trabalho passa por profunda revolução aqui e no mundo.
Crenças e políticas que deram mais errado do que certo há 50 anos não servem
mais para os dias de hoje.
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