O Globo
Presidentes de esquerda convergem em pontos como defesa dos direitos humanos, pautas econômicas e ambientais, mas diferenças sobre a Venezuela ainda pairam no ar
Na viagem que fará ao Chile no fim da semana que vem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer concentrar a agenda positiva bilateral em temas como ampliação do comércio e investimentos. Como aconteceu quando foi a Bogotá, em abril, Lula chegará a Santiago com uma ampla delegação ministerial e interessado em discutir como aprofundar a relação com o Chile de Gabriel Boric. O brasileiro sabe que não terá como fugir do tema Venezuela — sobre o qual manteve divergências com Boric na cúpula de chefes de Estado da América do Sul, em maio de 2023, em Brasília — mas seu interesse está muito longe de Caracas.
A interlocutores chilenos, diplomatas
brasileiros têm destacado o endurecimento da posição de Brasília em relação
a Nicolás
Maduro desde que o Conselho Nacional Eleitoral venezuelano
(CNE) barrou a
inscrição da candidata opositora Corina Yoris. Para amplos setores
do Itamaraty, esse endurecimento foi um alívio, e existe a percepção de que
hoje Lula e Boric não têm posições tão diferentes sobre Venezuela, embora o
Brasil ainda evite falar sobre violações dos direitos humanos no país.
Não falar de Maduro é impossível porque o
tema interessa aos chilenos por vários motivos, como a segurança interna.
Grupos criminosos venezuelanos vêm se envolvendo em diversos episódios
violentos no Chile, e o governo Boric já conseguiu enviar um avião de presos
venezuelanos de volta a Caracas. Mas ele também priorizará outros temas na
relação com o Brasil.
Na capital colombiana, confirmaram fontes do
governo de Gustavo Petro, o brasileiro
tentou fugir do assunto Venezuela cada vez que pôde. O colombiano
propôs, inclusive, articular um telefonema com Maduro, que nunca ocorreu. Em
determinando momento, acrescentou a fonte, Lula foi explícito e disse a Petro
que tinha viajado com um grande número de membros de seu Gabinete e que o
objetivo era trabalhar a relação bilateral — e não falar de chavismo.
O mesmo acontecerá em Santiago, porque a
Venezuela é um tema que o Palácio do Planalto acompanha de perto, mas cada vez
com menos entusiasmo ou expectativa sobre a influência que o Brasil pode ter no
país pelo presidente e alguns assessores. As sinalizações dadas por Maduro não
são positivas e a campanha eleitoral avança sob forte tensão.
Lula tem assuntos muito mais preocupantes na
cabeça, e no Chile, como na Colômbia,
buscará falar sobre temas que tenham projeção de futuro. Em palavras do
embaixador do Chile no Brasil, Sebastián Depolo, amigo de Boric, “é preciso um
esforço consciente para que nossos países estejam mais próximos”. Lula,
disseram fontes brasileiras, quer fazer esse esforço, como fez com a Colômbia.
Lula e Boric assinarão ao menos dez acordos
de comércio, investimentos, turismo, ciência e tecnologia e combate ao crime
transnacional. Este último tema é de extrema importância para os dois países.
Brasil e Lula, frisa Depolo, precisam tomar a decisão política, de Estado, de
caminhar juntos. O Chile, diz ele, pode ser uma plataforma para as exportações
brasileiras, e o Brasil uma ponte para que seu país chegue ao continente
africano. A agenda também incluirá a presidência brasileira no G20, transição energética
e combate à fome e à desigualdade.
A lista de temas da agenda positiva é ampla e
o desejo de ambos os presidentes é trabalhar pela integração, disseram fontes
dos dois governos. A Venezuela é um peso para ambos, e no caso do Brasil causa
cada vez mais desconforto.
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