O Globo
Separados por uma peruca, aliados do capitão
tentam vencer em Cuiabá e Belém; em Curitiba, candidata bolsonarista promete
entregar Saúde a "Doutora Cloroquina"
Um candidato que se diz inimigo do sistema
ensaia um discurso messiânico, descola um partido de aluguel, monta uma
campanha de guerrilha nas redes e promete libertar o povo dos políticos
tradicionais.
Aconteceu em 2018, quando um extremista que
defendia a ditadura chegou à Presidência. Aconteceu em 2024, quando um coach de
passado nebuloso quase foi ao segundo turno na maior cidade do país.
Pablo Marçal reciclou a fórmula de Jair Bolsonaro com algumas vantagens comparativas. Não dependeu de generais, não precisou de um Carluxo e não teve nem os 7 segundos de horário eleitoral que o finado PSL ofereceu ao capitão.
Sem acesso à propaganda em rádio e da TV, o
ex-candidato do PRTB fez uma campanha 100% digital — turbinada, é verdade, por
sua atitude delinquente nos debates televisivos. Por uma diferença de apenas 56
mil votos, ficou fora do duelo final pela Prefeitura de São Paulo.
Os relatos sobre o desaparecimento de Marçal
após a derrota nas urnas foram levemente exagerados. A dois dias do segundo
turno, o ex-candidato do PRTB ressurgiu ao promover uma exótica sabatina
on-line com o desafeto Guilherme Boulos.
Anunciada nas redes do coach, a live foi
assistida ao vivo por meio milhão de pessoas só em seu canal no YouTube. As
urnas dirão se o psolista ganhou algo ao se submeter a uma “entrevista de
emprego” com o sujeito que falsificou um laudo médico para mentir que ele teria
sido internado com overdose.
Para Marçal, o saldo já é positivo. Sem
interromper as férias na Itália, ele voltou aos holofotes e usou Boulos como
escada para se lançar ao Planalto em 2026.
A campanha de Ricardo Nunes disseminou a tese
de que o início da propaganda na TV barrou a ascensão de Marçal e garantiu a
ida do prefeito ao segundo turno. É uma versão interessada, que valoriza o
papel de marqueteiros contratados a peso de ouro.
Outros fatores ajudaram a salvar Nunes, que
chegou a ser visto como derrotado após semanas de superexposição na TV. O
principal parece ter sido o uso escancarado da máquina municipal. Enquanto o
prefeito pedia votos para se reeleger, secretários percorriam a cidade
entregando apartamentos, inaugurando asfalto, prometendo escola e posto de
saúde.
Embora Marçal tenha monopolizado a cena,
outros personagens usaram a mesma receita para prosperar nas urnas em 2024. Em
Curitiba, a bolsonarista Cristina Graeml chegou ao segundo turno a bordo do
extremismo digital.
Se vencer, promete entregar a secretaria de
Saúde a uma médica que militou contra a vacina e ganhou o apelido de “Doutora
Cloroquina”. Refugo da Jovem Pan, a candidata é filiada ao Partido da Mulher
Brasileira, o nanico PMB.
Em outras capitais, o PL ofereceu legenda e
fundo partidário a aventureiros profissionais. Os exemplos mais caricatos são
Abílio Brunini, em Cuiabá, e Delegado Éder Mauro, em Belém. Separados por uma
peruca, os dois apostam no populismo de extrema direita para tentar vencer
neste domingo. Saíram da linha de montagem do capitão.
Um comentário:
Excelente análise, de grande abrangência.
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