O Estado de S. Paulo
O presidente pode falar mal do FMI. Mas ainda
lhe faltaria explicar por que as projeções do mercado brasileiro são tão
parecidas com as do fundo
O presidente Lula da Silva insiste em
remontar a economia mundial, buscar alternativas ao dólar e dar proeminência
aos países do “sul”, uma entidade ainda mal definida, mas pouco avançou, até
agora, na tarefa de resgatar o Brasil da mediocridade. Com crescimento previsto
de 3% neste ano, 2,2% no próximo e 2,5% em 2029, o País continua no pelotão de
trás da corrida econômica, segundo as novas projeções do Fundo Monetário
Internacional (FMI).
Em coro com outros políticos brasileiros, o presidente pode falar mal do fundo, acusá-lo de servir aos Estados Unidos, de agir contra os interesses do mundo emergente e em desenvolvimento e de impor políticas desastrosas. Mas ainda lhe faltaria explicar por que as projeções formuladas no mercado brasileiro são tão parecidas com as do FMI – e às vezes piores em alguns detalhes.
Segundo o boletim Focus distribuído no dia
21, a economia do Brasil, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), deve crescer
3,05% em 2024, 1,93% em 2025 e 2% em cada um dos dois anos seguintes. As
projeções também apontam inflação de 4,5% neste ano, de 3,99% no próximo e
taxas sempre superiores ao centro da meta, 3%, até 2027.
Inflação seguidamente acima da meta é um
claro desafio para o Banco Central (BC), entidade responsável pela defesa da
moeda. A resposta é dada com elevação de juros ou manutenção de juros altos.
Por isso, a taxa básica, a Selic, estará em 11,75% no fim deste ano, em 11,25%
em dezembro de 2025, em 9,50% no encerramento de 2026 e em 9% no final do
período. Taxa real de juros elevada pode atrair capital especulativo, mas é
normalmente um obstáculo ao consumo, ao investimento produtivo e ao crescimento
da atividade econômica.
O presidente pode falar mal do setor
financeiro e acusá-lo de operar contra os interesses do povo. Mas nesse
mercado, como em qualquer outro, os agentes trabalham normalmente em busca de
lucro e, nos piores momentos, da preservação de seu capital e de sua
sobrevivência nos negócios.
Motivações semelhantes serão encontradas em
pequenos, médios e grandes empresários de todos os setores. Os mais modestos
produtores do campo, nas áreas menos desenvolvidas, provavelmente elevarão suas
ambições se conseguirem ir pouco além do mínimo necessário. Por que não ampliar
e reformar a casa, comprar uma televisão mais moderna e pensar numa educação
mais ambiciosa para os filhos?
O presidente Lula, é claro, entende e apoia
essas ambições, mas parece esquecer ou menosprezar, em alguns momentos, as
condições necessárias para realizá-las numa economia capitalista, ou ainda
capitalista, como a brasileira. Essas condições incluem, nos níveis básicos, o
crescimento econômico prolongado e seguro, com previsibilidade suficiente para
as decisões de investimento privado.
Incluem também, obviamente, uma gestão
prudente e eficaz das verbas públicas, com investimentos bem planejados e bem
executados, contenção dos gastos de custeio e, se possível, diminuição do peso
tributário, sem favores a grupos empresariais, setores de negócios e apoiadores
políticos.
Tudo isso é obviamente complicado, ainda mais
num país onde congressistas controlam uma enorme parcela – muito maior do que
se observa em economias mais desenvolvidas, como a americana – das emendas
orçamentárias. Nada pode justificar a pulverização de dezenas de bilhões de
reais enviados, por meio de emendas, às bases eleitorais de parlamentares.
Trata-se de verbas da União destinadas, por esse meio, a obras e atividades de
responsabilidade local ou estadual e, em muitos casos, sem conexões claras com políticas
e programas federais. Não é exagero qualificar esse procedimento como
privatização de recursos da União para objetivos particulares de políticos e de
seus apoiadores. É perfeitamente justificável a intervenção recente do Supremo
Tribunal Federal, nesse jogo, com a exigência de informações suficientes sobre
a destinação dessas verbas.
O presidente Lula e demais líderes do Brics
podem ter excelentes motivos para cobrar mudanças na ordem econômica mundial e
nas instituições multilaterais – embora o presidente brasileiro exiba,
normalmente, notável ignorância dos objetivos, critérios e atividades do FMI e
de outras entidades. Lula chega a exibir alguma ingenuidade nessas discussões.
Ele parece desconhecer, por exemplo, a participação chinesa (6,40%) no total de
recursos do fundo, só superada, quando se consideram as parcelas individuais
dos países, pela dos Estados Unidos (17,42%). Alemanha, maior economia da
Europa Ocidental, detém 5,59%. O Brasil, 2,32%. Mas poucos países votam com
base apenas em sua participação financeira. A maior parte, incluído o Brasil, é
vinculada a grupos e vota dessa maneira.
Em seu terceiro mandato, o presidente Lula
exibe, de vez em quando, recaídas no petismo de quatro décadas atrás, como
quando tenta mandar nas agências reguladoras. Isso é em parte compensado pela
atualidade do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e de sua colega do
Planejamento, Simone Tebet. Bem ou mal, o petismo presidencial acaba
neutralizando, em boa parte, o direitismo extremo ainda perigoso para a
democracia brasileira.
Um comentário:
Hoje na relação internacional , o Brasil está se colocando junto com China, Rússia , Irã , Cuba e Venezuela , ou seja países autoritários administrados por ditadores é assim que nós estamos sendo visto no mundo afora
Lula Não engana mais ninguém
O Trump vai ganhar e vai haver realmente uma uma arrumação até da nossa política externa botar ordem no nosso galinheiro
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