Correio Braziliense
É saudável que a filosofia ocupe a mente dos
homens, para que haja melhor uso da inteligência. Queremos também melhor
compreensão do papel da ciência, das letras e das artes na vida humana
A filosofia é matéria de que não se pode
abrir mão no ensino médio. É fundamental para a compreensão do fenômeno da
educação. Ela unifica as diversas descobertas da ciência, supera crenças e
enfoques empíricos. Todos se questionam, hoje em dia, sobre o conhecimento, o
ser, a existência, os valores, com a missão de encontrar respostas ou mostrar o
que é possível entender.
A educação trata da natureza do conhecimento e de como este é ensinado e organizado. Sua abrangência é uma concepção da verdade e da liberdade com aquilo que é ensinado. Assim, procuramos fazer uma visão crítica daquilo que é ensinado. O objetivo não poderia ser outro senão o crescimento e a evolução da sociedade.
É saudável que a filosofia ocupe a mente dos
homens, para que haja melhor uso da inteligência. Queremos também melhor
compreensão do papel da ciência, das letras e das artes na vida humana.
Deseja-se a harmonia entre o logo e o empírico. Assim, se alcança a verdadeira
riqueza do espírito. Illich falou na desescolarização, hoje cita-se a
desconstrução, com o risco muito sério de se estar correndo atrás do nada.
Pensadores que visitaram o Brasil aqui
disseminaram suas ideias, como Noam Chomsky, Alan Badiou, Alain Touraine,
Edgard Morin (o homem do olimpismo moderno), Claude Leport, Yuval Harari e
muitos outros. A convite de Helena Nader, presidente da Academia Nacional de
Ciências, estive presente no Nobel Prize Dialogue, que aconteceu na sede da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em 15 de abril. Presente
também Eliete Bouskela, presidente da Academia Nacional de Medicina.
A recepção, depois, foi no Palácio da
Cidade, em Botafogo, da qual participaram laureados, painelistas e moderadores.
Foi um belo encontro em que o destaque foi, sem dúvida, a ciência universal.
Representei, em nome do presidente Merval Pereira, a Academia Brasileira de
Letras. O Rio tornou-se a capital do conhecimento.
Pude recordar, em rápidas palavras, um fato
histórico. O então governador Negrão de Lima foi responsável pela minha
passagem pela Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia, o que aconteceu,
pela primeira vez, no governo da então Guanabara. Fui autor de um projeto de
doutrina da ciência e tecnologia, trabalho inédito, e construí o Planetário da
Gávea, que se tornou uma incrível atração científica da cidade. Essas
atividades se desenvolveram no período 1968 a 1971.
Na ocasião, nasceu a revista Ciência,
muito bem editada pelo saudoso jornalista Fuad Atala. E foram criadas cadeiras
que fizeram muito sucesso na reformulação dos cursos de ensino médio da cidade
do Rio. Houve um destaque especial para tudo que se referisse ao
desenvolvimento científico e tecnológico, como sempre se considerou uma
prioridade no estado. E graças ao planetário foram valorizadas as atividades
ligadas à astronomia.
Foi um enorme prazer lidar com esses assuntos
no governo. Tive minha primeira formação como bacharel e licenciado em
matemática, lecionando depois, por muitos anos, na matéria de geometria
analítica. Ao fazer o segundo curso superior em pedagogia, fixei-me em história
e filosofia da educação — daí o livro com esse título que acabei de lançar pela
Editora Vozes.
Posso proclamar, com muito orgulho, que
lecionei durante 34 anos na Uerj, à qual me dediquei de corpo e alma. Pertenci
durante mais de 20 anos ao seu eficiente Conselho Universitário. E fui
vice-chanceler da universidade, prestando inestimáveis colaborações à sua
administração. Era responsável pelos contatos da instituição com o governador
da ocasião, em função das minhas atividades, por quatro vezes, de secretário de
Estado.
Registrar esses momentos em que o Rio se
transformou em capital da ciência e da tecnologia foi um prazer imenso, o mesmo
que tive quando visitei, em 1989, a Academia Sueca de Literatura e fui recebido
pelo seu prestigiado secretário geral, escritor e linguista Sture Allen, de
quem recebi uma linda medalha.
O encontro no Rio, prestigiado pelo prefeito
Eduardo Paes, teve o expressivo título de Creating our future together with
science Nobel Prize Dialogue, com a presença de vencedores dos prêmios Nobel de
Física, Química e Medicina. O objetivo de motivar os jovens foi plenamente
alcançado.
*Arnaldo Niskier, Membro da Academia Brasileira de Letras
Um comentário:
Muito bom!
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