Folha de S. Paulo
Campanha de difamação do Congresso, mesmo
defeituoso, resulta em estímulo à antipolítica
O Congresso não
anda fazendo um bom serviço aos olhos da população, sabemos disso. Recente
pesquisa do Datafolha aponta que quase 60% dos brasileiros sentem vergonha da
conduta de deputados federais e senadores.
O mesmo estudo mostra que a Presidência da
República e o Supremo Tribunal Federal estão em situação parecida. O STF é visto
com desdouro por 58% dos pesquisados e 56% não veem motivo para se orgulhar do
desempenho do presidente.
Estão, portanto, todos navegando em barco que requer uma correção de rumos. Evidência da qual decorre que talvez não seja aconselhável e muito menos adequada a ideia do governo de tentar recuperar a popularidade de Lula (PT) jogando a culpa dos males da nação nas costas de um Parlamento inimigo dos pobres.
A descredibilização do Legislativo nada tem
de muito diferente daquilo que Bolsonaro (PL) fez e ainda faz
em relação ao Judiciário. Não é uma atitude que se harmonize com a defesa da
democracia incorporada pelo atual governo em contraposição às intimidações
autoritárias do antecessor.
Um Congresso imperfeito, até mesmo bastante
defeituoso, é muito melhor que Congresso nenhum. Se a representação popular
falha em seus deveres de defesa do interesse público, não será uma campanha de
difamação o melhor caminho para elevar o nível dos representantes.
Pode até momentaneamente dar uma
desequilibrada de ânimos em favor do Executivo, mas há o dano colateral de se
incentivar hostilidade à atividade política, a única maneira de se dirimir
conflitos em ambiente de normalidade institucional.
Já vimos no que resulta a atmosfera da
antipolítica: em maus governantes embrulhados na falsa embalagem de salvadores
da pátria, cuja concepção é a de que só são verdadeiros democratas os áulicos,
os que lhe prestam reverência.
O presidente Lula certamente não gostará de
chegar a essa altura dos acontecimentos sendo confundido com um desses. E para
que não seja, conveniente seria não rezar pela cartilha prepotente dos
autocratas.
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