quarta-feira, 9 de julho de 2025

A tradução do ‘nós contra eles’ - Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

O governo Lula e o PT lançam hoje a segunda fase da campanha sobre a reforma da renda, desta vez para fazer a ligação direta entre o discurso de combate aos privilégios e a vida real. A primeira etapa jogou os holofotes sobre o conceito de justiça tributária, na esteira do decreto que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), rejeitado pelo Congresso. Agora, vídeos que serão postados nas redes sociais vão investir em comparações.

A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT vai tentar reduzir o ruído provocado pela estratégia do “nós contra eles”. Um dos vídeos mostra que o custo do programa Bolsa Família, no Orçamento de 2025, é de R$ 158 bilhões. “É o mesmo valor que o governo dá de isenção tributária para os mil maiores produtores rurais”, afirmou o publicitário Otávio Antunes, que faz a campanha do PT. “Mas não se trata de um enfrentamento com o Congresso nem de ‘nós contra eles’. A não ser que o ‘nós contra eles’ seja 99% contra 1%.”

Em uma estratégia combinada, a bancada petista na Câmara vai apresentar um novo projeto de lei para limitar os supersalários. Embora uma proposta sobre o mesmo assunto esteja parada no Senado, após ter sido aprovada por deputados, um relatório da Transparência Brasil constatou que o texto abre brecha para o pagamento de penduricalhos a magistrados, fora do teto de R$ 46.366,19.

Na prática, ao tratar da reforma da renda, Lula busca não só um mote para seu terceiro mandato como também se reposicionar no jogo para a campanha de 2026, após sucessivas quedas de popularidade.

Lula trava um embate com o Congresso por causa do IOF, mas avalia que o governo saiu das cordas ao reagir. No seu diagnóstico, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes jogou uma boia na direção do governo ao marcar audiência de conciliação com os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, para o dia 15.

“A partir da discussão do IOF, nós conseguimos fazer com que esse assunto do combate aos privilégios entrasse no cotidiano das pessoas”, disse o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ).

Petistas recorrem agora até ao ex-ministro da Economia Paulo Guedes, o Posto Ipiranga de Jair Bolsonaro, na tentativa de provar que o governo está certo ao propor o aumento do IOF. Circula em grupos de WhatsApp trecho de uma entrevista antiga de Guedes, defendendo a taxação dos super-ricos.

“Sessenta mil pessoas receberam R$ 300 bilhões e pagaram zero. Estamos falando de megabilionários. É o que eu sempre disse: ‘Você não tem de ter vergonha de ser rico; você tem de ter vergonha de não pagar imposto’”, disse o então ministro ao podcast Flow.

Motta está irritado com o ataque de aliados de Lula à Câmara, mas o personagem “Hugo Nem Se Importa”, criado pela esquerda, dá gargalhada nas redes e parece levar tudo numa boa. Resta saber quando virá o troco.

 

Nenhum comentário: