O Estado de S. Paulo
O governo Lula e o PT lançam hoje a segunda
fase da campanha sobre a reforma da renda, desta vez para fazer a ligação
direta entre o discurso de combate aos privilégios e a vida real. A primeira
etapa jogou os holofotes sobre o conceito de justiça tributária, na esteira do
decreto que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), rejeitado
pelo Congresso. Agora, vídeos que serão postados nas redes sociais vão investir
em comparações.
A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT vai tentar reduzir o ruído provocado pela estratégia do “nós contra eles”. Um dos vídeos mostra que o custo do programa Bolsa Família, no Orçamento de 2025, é de R$ 158 bilhões. “É o mesmo valor que o governo dá de isenção tributária para os mil maiores produtores rurais”, afirmou o publicitário Otávio Antunes, que faz a campanha do PT. “Mas não se trata de um enfrentamento com o Congresso nem de ‘nós contra eles’. A não ser que o ‘nós contra eles’ seja 99% contra 1%.”
Em uma estratégia combinada, a bancada
petista na Câmara vai apresentar um novo projeto de lei para limitar os
supersalários. Embora uma proposta sobre o mesmo assunto esteja parada no
Senado, após ter sido aprovada por deputados, um relatório da Transparência
Brasil constatou que o texto abre brecha para o pagamento de penduricalhos a
magistrados, fora do teto de R$ 46.366,19.
Na prática, ao tratar da reforma da renda,
Lula busca não só um mote para seu terceiro mandato como também se reposicionar
no jogo para a campanha de 2026, após sucessivas quedas de popularidade.
Lula trava um embate com o Congresso por
causa do IOF, mas avalia que o governo saiu das cordas ao reagir. No seu
diagnóstico, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes
jogou uma boia na direção do governo ao marcar audiência de conciliação com os
presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, para o dia 15.
“A partir da discussão do IOF, nós
conseguimos fazer com que esse assunto do combate aos privilégios entrasse no
cotidiano das pessoas”, disse o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ).
Petistas recorrem agora até ao ex-ministro da
Economia Paulo Guedes, o Posto Ipiranga de Jair Bolsonaro, na tentativa de
provar que o governo está certo ao propor o aumento do IOF. Circula em grupos
de WhatsApp trecho de uma entrevista antiga de Guedes, defendendo a taxação dos
super-ricos.
“Sessenta mil pessoas receberam R$ 300
bilhões e pagaram zero. Estamos falando de megabilionários. É o que eu sempre
disse: ‘Você não tem de ter vergonha de ser rico; você tem de ter vergonha de
não pagar imposto’”, disse o então ministro ao podcast Flow.
Motta está irritado com o ataque de aliados
de Lula à Câmara, mas o personagem “Hugo Nem Se Importa”, criado pela esquerda,
dá gargalhada nas redes e parece levar tudo numa boa. Resta saber quando virá o
troco.
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