segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Os defensores da democracia - Denis Lerrer Rosenfield

O Estado de S. Paulo

Limites devem ser estabelecidos, sob pena de a defesa da democracia tornar-se uma arma que pode miná-la

O Brasil precisa se defender dos defensores da democracia! Cuidado! O terreno está minado! O número de falsos personagens que se arvoram em defensores das liberdades é propriamente assustador. O País está rumando para uma crise institucional de proporções importantes, com as instituições se desagregando internamente, para além dos conflitos cada vez mais visíveis entre elas, enquanto os responsáveis políticos nada mais fazem do que defender seus interesses eleitorais, corporativos, de privilégios e outros, como se o bem coletivo pudesse ficar à deriva.

Bolsonaro e seu filho Eduardo só se preocupam com uma anistia generalizada que os beneficiaria, usando para isso, sem quaisquer limites, todo e qualquer meio, inclusive as tarifas impostas, que contrariam os interesses nacionais. Fazem o jogo dos EUA em prejuízo de seu próprio país, algo inaceitável para um ex-presidente. Agir contra a própria nação é propriamente um crime. Do ponto de vista eleitoral, tanto mais inexplicável é, uma vez que sua própria base foi prejudicada, em particular o agronegócio, seu pilar de sustentação. Se o deputado tinha alguma pretensão presidencial, ela simplesmente esvaiu-se. Entre o Brasil e os EUA, optaram por esse último, sob o pretexto de estarem defendendo as nossas liberdades! Ora, o País sofreu um imenso tarifaço e eles defenderam que o presidente americano tenha ingerência no Judiciário brasileiro. Pasmem, declaram defender as liberdades.

Os liberticidas, os que arquitetaram o golpe, devem sim ser punidos. E exemplarmente. No entanto, torna-se necessário fazer a distinção entre os mentores e os seguidores, os que apenas serviram como massa de manobra. Os participantes das depredações de 8 de janeiro deveriam ser anistiados ou serem objetos de penas leves, algo que não tem nada a ver com condenações impróprias como a de uma mulher condenada a 14 anos de prisão por manchar de batom uma estátua. Foram bucha de canhão. O golpe já tinha sido naquele então inviabilizado pela atitude corajosa de generais do Alto Comando do Exército, que o impediram. Uma vez tal decisão tomada, o que se seguiu foi a atitude desesperada de remanescentes golpistas.

Tampouco cabe a Lula apresentar-se como defensor da democracia e dos interesses nacionais. Provocou o presidente Trump com fanfarronices de um homem descontrolado, alheio ao papel de um presidente e, menos ainda, de um democrata.

Tornou-se internacionalmente um personagem cômico. Defende sozinho uma desdolarização dos negócios internacionais, como se fosse uma prerrogativa do Brics, que nem o apoiam. Só fala para sua base petista, que fica exultante em seu atordoamento. Solidarizou-se com Putin, que procura, tão simplesmente, anexar a

Ucrânia e foi julgado internacionalmente por sequestrar crianças! O nosso humanista se cala.

Tornou-se um porta-voz do Hamas, divulgando como verídica qualquer mentira de lá proveniente. E não consegue nem mais se conter. Seu antissemitismo se escancarou ao retirar o Brasil da posição de observador da Aliança Internacional em Memória do Holocausto, dedicada a combater o antissemitismo no mundo. Seus aliados terroristas o aplaudiram. Como pode se exibir como defensor do humanismo e das liberdades? Ademais, ainda se diz cada vez mais “esquerdista e socialista” numa curiosa encenação de ideias retrógradas que não deram lugar à democracia em nenhum lugar do mundo. E não cessa de lançar bravatas contra Trump, tendo tornado o Itamaraty um puxadinho dessas ideias capitaneadas pelo Palácio do Planalto. O seu silêncio seria um poderoso instrumento diplomático.

O ministro Alexandre de Moraes, embora tenha tido uma posição de destaque em defesa da democracia ao posicionarse decisivamente no julgamento da tentativa de golpe de Estado, passou a exercer poderes que ultrapassam as regras de um Estado Democrático de Direito. Não pode unir em sua pessoa as funções de delegado, promotor e juiz, passando a imiscuir-se em qualquer assunto político que diz ser de sua competência. Limites devem ser estabelecidos, sob pena de a defesa da democracia tornarse uma arma que pode miná-la.

Não pode ele, apesar de ser injustamente punido pelo presidente americano, que está, por sua vez, decidindo muito além de suas prerrogativas internacionais, reagir a elas dobrando as apostas e agravando os conflitos. Por mais que Bolsonaro tenha tentado um golpe de Estado, pelo qual não foi ainda julgado, não pode ele ter cortada a sua liberdade de expressão, constitucionalmente assegurada. Tampouco deve ser o Supremo Tribunal Federal (STF) um anexo dos perdedores dos embates legislativos, que a ele recorrem para extrair algum ganho, pervertendo as instituições democráticas. Nem mesmo um defensor dos privilégios abusivos do Judiciário que afrontam os sentimentos nacionais, enfraquecendo, assim, as instituições democráticas. Cabe ao STF ser uma Corte Constitucional e não um ator político. A democracia disso também depende. •

 

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