Folha de S. Paulo
Como o brasileiro pode amar
a floresta e protegê-la se não é educado para entendê-la como central para o
mundo?
"O Brazil não conhece o
Brasil/ O Brasil nunca foi ao Brazil// O Brazil não merece o Brasil/ O Brazil
tá matando o Brasil// Do Brasil, SOS ao Brazil/ Do Brasil, SOS ao Brazil".
São versos de Mauricio Tapajós e Aldir Blanc em "Querelas do Brasil", que Elis Regina lançou em
1978 e, hoje, quase 50 anos depois, às vésperas da COP30, soam com
assombrosa atualidade.
Reencontrei esse alerta na entrevista do cineasta João Moreira Salles e da ativista indígena e colunista da Folha Txai Suruí a Rosiska Darcy de Oliveira no último número da indispensável Revista Brasileira, publicada pela Academia Brasileira de Letras e dirigida por Rosiska.
"O Brasil está
historicamente de costas para a Amazônia",
disse Moreira Salles. "As maiores florestas tropicais do mundo estão no
nosso país e não desenvolvemos uma imaginação florestal. Os EUA viveram no
século 19 um processo semelhante ao nosso, em violência e dizimação dos povos
originários –nós, para o norte, e eles, para o oeste. Só que, lá, os
colonizadores foram colonizados pela paisagem e construíram representações
simbólicas daquilo. Os faroestes sacralizaram a paisagem. Aqui pode-se destruir
a Amazônia sem que isso soe como heresia".
"A floresta é um legado
de 12 mil anos de coprodução entre indígenas,
micro-organismos, fungos, animais etc., que dão fertilidade ao solo",
continua. "Ela não existiria se não fosse isso. Quando a catedral de Notre
Dame pegou fogo, todos nós choramos, porque ela nos constitui como civilização.
A floresta é igual, é uma catedral orgânica. Por que isso não é ensinado nas
escolas? Como o brasileiro pode amar a floresta e protegê-la se não é educado
para entender a sua importância como reguladora do clima no mundo?"
"Vai ter a COP30 e quem
são as pessoas que vão estar lá decidindo sobre as coisas? Indígenas?
Negras?", pergunta Txai. "Ou as mesmas pessoas, as grandes empresas
que lucram com o que está acontecendo dentro do nosso território falando de seus
projetos sustentáveis?". Pense nisso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário