sábado, 16 de agosto de 2025

Tem golpista demais, por Luís Francisco Carvalho Filho

Folha de S. Paulo

Bolsonaro passou a vida pregando ditadura e tortura

Jair Bolsonaro deveria ter sido preso em 30 de março de 2023, no aeroporto, ao voltar da Flórida, depois de assistir de camarote ao quebra-quebra da Praça dos Três Poderes. Hoje estaria apodrecendo politicamente em alguma penitenciária federal, mas o ex-presidente criminoso ficou solto por aí, tolerado, conspirando.

Deu no que deu. Com golpista não se brinca. A democracia agora é refém da parceria asquerosa e imoral com Donald Trump, que anima golpistas pelo mundo afora.

O Brasil é um verdadeiro paraíso para os que tentam subverter a ordem constitucional ou realizar manobras desonestas.

Do romântico golpe do baú ao intrigante golpe do "boa noite, Cinderela", ainda se vê trama primitiva, ingênua e ilusionista em malandros que atuam na praça da Sé. Tem golpista que finge ser do PCC para extorquir moradores de Paraisópolis. Tem irmão que passa a perna em irmão. Tem sócio que passa a perna em sócio.

Sob o olhar complacente de governantes e juízes, sempre tem golpe na Previdência: sai no jornal, nada acontece e os aposentados pagam a conta.

São 24 milhões de brasileiros vítimas do golpe do PIX ou do boleto falso, informa o Datafolha. Toca o celular, é golpe! Tem golpe bancário. Pirâmide. Tem o golpe do influencer. Tem o golpe do cartão de crédito. Tem golpe cibernético: phishing, vishing, smishing. Tem golpe no comércio eletrônico.

Craque de futebol dá golpe do cartão amarelo em site de apostas, por uns trocados, porque enganar não tem consequência. Pastores usam fé e ignorância para aplicar golpes em nome de Jesus.

Golpe legítimo, só no karatê e no judô. Mas nas lutas tem golpe baixo também. Golpe de ar, diziam os antigos, é ruim para a saúde. Golpe de misericórdia. Golpe de vista. Golpe de sorte. Golpe fatal.

O premiado "Golpe de Mestre", versão brasileira do filme "The Sting" (1973, George Roy Hill), com Paul Newman e Robert Redford, é inspiração literária para golpistas elegantes e simpáticos que costumam se dar bem.

Na política e no uso da inteligência artificial o golpe encontra espaço e facilidades. Liberdade de exploração é liberdade de expressão.

Golpistas de direita criam fake news para enganar, iludir o eleitor. Tem golpistas de meia tigela, como os integrantes de grupo de ex-alunos de tradicional e caro colégio de São Paulo no WhatsApp comemorando o tarifaço de Trump: "Está na hora de retomar essa bandeira. Fora STF e governo Lula".

O brasileiro está acostumado a golpes de Estado desde a Proclamação da República. Getúlio Vargas deu golpe em 1937. As Forças Armadas deram golpe em 1964. Outras tentativas de ruptura constitucional aconteceram em 1956 e 1959. Ninguém foi punido por isso.

Bolsonaro passou a vida fazendo "rachadinhas" e pregando ditadura e tortura. Parlamentares bolsonaristas querem impor ao país a agenda do golpe impune. Apostam na intimidação e na anistia.

Os estados mais populosos do Brasil têm governadores golpistas, silenciosos ou disfarçados, não importa. Tem golpista no Supremo Tribunal Federal. Tem golpista na OAB. Tem golpista no CRM e nos convênios médicos. Tem golpista vendendo remédio. Tem golpista nas igrejas, nos quartéis e na internet. Tem golpista no campo e nas cidades. Tem golpista demais.

 

 

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